Primeira cerveja orgânica

O município de Picada Café, a 80 quilômetros de Porto Alegre, faz parte da Rota Romântica da Serra Gaúcha. E faz justiça ao posto: as casas em estilo enxaimel, herdadas da colonização alemã, os moinhos movidos a roda d’água, os festivais de comidas típicas e as trilhas por vales de vegetação nativa são uma ode à natureza. Mas a cidade não é apenas um cantinho bucólico do País, guardado por seus cinco mil habitantes. Picada Café é a sede de um projeto bem sucedido de agricultura orgânica no País, liderado pela Cooperativa Vida Natural (Coopernatural), no qual a inovação está na base do negócio.
A cooperativa de pequenos agricultores familiares, que nasceu nos anos 2000 e que até dois anos atrás possuía quatro agroindústrias para processar sucos, geleias, grãos e vinho, hoje possui cinco agroindústrias. A mais recente foi construída para processar a única cerveja orgânica nacional, sob a marca Stein Haus. “Vamos apostar nesse mercado porque é um ótimo nicho em expansão”, diz Ricardo Fritsch, presidente da Coopernatural. “Além disso, no Brasil somente nós fabricamos cerveja certificada como orgânica.”
No caso da Coopernatural, a cooperativa criada por 11 produtores – hoje são 30 –, investiu R$ 800 mil desde 2014 para construir a cervejaria Stein Haus. A ideia surgiu para aproveitar a cevada que era destinada apenas à alimentação animal, cultivada em parte dos 320 hectares dos cooperados, nos quais também estão frutas e grãos. “Fechamos o projeto quando conseguimos enviar a cevada à maltaria do mestre cervejeiro Rodolfo Rebelo, em Blumenau, que se comprometeu a certificá-la”, diz Fritsch. Em junho deste ano, a cerveja foi lançada comercialmente em São Paulo, durante a Biofach América Latina, a maior feira de produtos orgânicos e naturais do País. Em julho, Fritsch esteve na Saintex, em Joanesburgo, a principal feira de alimentos da África do Sul, a convite da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla do inglês).
No ano que vem, já em fevereiro, ele estará na Biofach da Alemanha, para a mesma missão: apresentar aos maiores apreciadores mundiais de cerveja a orgânica Stein Haus. “Queremos o mercado nacional, mas importa também que o mundo aprecie e compre a nossa bebida”, diz Fritsch. A cooperativa, que deve faturar R$ 1,32 milhão neste ano, espera crescer no mesmo ritmo do mercado geral de orgânicos, em cerca de 30%.
A Coopernatural processa 2,5 mil litros mensais de quatro tipos de cerveja: pielsen, ipa, german pilsen e doppel weizenbier. São 3,3 mil garrafas de 750 mililitros da bebida que custa entre R$ 20 e R$ 30 cada. Mas, a cervejaria tem capacidade para 16 mil litros por dia e pode aumentar a produção em mil litros mensais, a cada 90 dias. “Apostamos que essa capacidade será utilizada em pouco tempo, basta que a gente mostre nosso produto”, afirma ele.
Além do Sul, a Stein Haus é encontrada no Rio de Janeiro, em casas como a Gaia Arte & Café, no Leme, ou no armazém Vale dos Palmares. Em São Paulo, no Instituto Chão, a cerveja é vendida há quatro meses. “Sai muito rapidamente, justamente por ser orgânica”, diz Agatha Fernandes, uma das sócias. “Vendemos outras orgânicas, mas são do Canadá, as nacionais são apenas naturais, sem a certificação.”
fonte: Dinheiro Rural
Outras matérias:
Stein Haus produz a única cerveja orgânica artesanal certificada no Brasil
Coopernatural participa da Expoalimentaria no Peru