Rede comunitária para acesso ao mercado pelos produtores orgânicos

Orgânicos da Região Serrana do Estado chegam aos bairros cariocas

26 de setembro de 2018 Manacá Orgânicos.

Por Jéssica Silvano

Produção orgânica da Manacá. Foto: Sylvia Wachsner (OrganicsNet/CI Orgânicos)

O sítio familiar, comprado em 2001, era destinado apenas ao descanso e ao lazer da família aos finais de semana. Mas, as fortes chuvas que ocorreram na Região Serrana fluminense em janeiro de 2011, fizeram com que a família decidisse dar um novo rumo à propriedade. A água abriu uma clareira na mata ao redor do sítio, localizado em Teresópolis, revelando uma área de terra virgem e sem cultivo. Naquele momento, a família de Carlos Roberto Wagner (59) e Susana Arcangela Quacchia Feichas (64) enxergou um novo caminho: plantar orgânicos. “Do limão, fazer uma limonada. Decidimos aproveitar a oportunidade que a natureza nos proporcionou e, assim, surgiu a ideia de iniciar uma lavoura de verduras e legumes orgânicos”, afirma Wagner, um dos fundadores da Manacá Orgânicos.

Com a ideia já definida, era preciso estudar, buscar conhecimento sobre esse modelo de cultivo, que não utiliza agrotóxicos e possui uma legislação própria e rigorosa. A família entendeu que era necessário aprender a produzir dentro do modo orgânico, conhecer e decidir sobre os diferentes canais de distribuição e comercialização e, assim, iniciou uma árdua pesquisa bibliográfica e documental tanto de materiais técnicos, quanto relacionados à legislação. “Era preciso conhecer as diferenças entre uma plantação no modo convencional e o modo orgânico, passando pelo agroecológico e o biodinâmico”, relembra Wagner. “Cultivar orgânicos é uma filosofia de vida, de cuidado com o ecossistema natural. Não há meio termo, ou se é orgânico ou não”, completa.

Nesse processo de entrada no cultivo orgânico, a família teve uma importante aliada. Maria Marinéa da Silva, a Léa. Inicialmente caseira do sítio, Léa já plantava legumes e verduras desde muito cedo, prática que aprendeu com os pais. No sítio, ela mantinha uma horta caseira, para consumo próprio. Com a iniciativa da família de iniciar o cultivo de produtos orgânicos, Léa mergulhou nas “loucuras do patrão”, fazendo um curso de produção orgânica, oferecido na região. “Léa sempre foi uma profunda conhecedora da época certa de plantar, do crescimento de cada planta e de seus cuidados diários. Ela aderiu à produção orgânica de corpo e alma, cuidando com muito carinho de cada cultivar”, nos conta Wagner.

Com o apoio do irmão agrônomo, Wagner e a família iniciaram um cultivo voltado para o consumo próprio, de familiares e amigos. Mas, a demanda pelos produtos produzidos no sítio começou a crescer e, com isso, uma nova área de produção foi incorporada. “O desafio aqui foi levar água da nascente até este local, apesar de um rio passar nos limites do terreno, essa água não poderia ser usada, pois a montante da produção ali era convencional”, explica Wagner.

Certificação

Após estudar cada uma das formas de certificação que a legislação orgânica oferece, a família optou pela certificação por auditoria externa do IBD. A produção orgânica do sítio foi certificada em 2012 e, desde então, é renovada ano a ano.

O IBD é a maior certificadora da América Latina e a única certificadora brasileira de produtos orgânicos com credenciamento IFOAM (mercado internacional), ISO/IEC 17065 (mercado europeu-regulamento CE 834/2007), Demeter (mercado internacional), USDA/NOP (mercado norte-americano) e aprovado para uso do selo SISORG (mercado brasileiro), o que torna seu certificado aceito globalmente.

Mercado

O desafio de produzir já havia sido vencido e, com os produtos devidamente certificados como orgânicos, era preciso pensar no próximo passo: a distribuição. “Encontramos no delivery uma forma de escoar a nossa produção”, afirma Wagner. “Entendemos que o cliente deseja uma cesta diversificada, o que nos levou a buscar a parceria com outros produtores orgânicos, construindo uma rede de fornecedores”, explica.

Loja Física

Foto: Sylvia Wachsner (OrganicsNet/CI Orgânicos)

A Manacá Orgânicos em parceria com outras entidades do setor, aceitou o convite da direção do shopping carioca Fashion Mall para abrir uma loja física no local. A disponibilidade financeira e gerencial de um dos sócios, bem como a possibilidade de constituir uma sociedade com pessoas do ramo, com experiência acumulada em entregas residenciais e feiras orgânicas foram fundamentais para que a empresa aceitasse o convite de apostar em um empreendimento como esse. A PontoEco, inaugurada em outubro do ano passado, combina serviços de hortifrúti, restaurante com comida vegetariana a quilo, além de realizar entregas em domicílio, oferecendo alimentos gourmet, orgânicos, veganos, in natura e processados.

Sobre a receptividade por parte dos moradores da região e clientes do shopping, Wagner garante que tem sido boa. “Mas, como todo negócio, tem um tempo de maturação que exige dedicação, perspicácia para as mudanças e nervos de aço para lidar com as finanças”, ressalta. “É um espaço que está tomando forma, conhecendo seu público e decisões vão sendo tomadas pouco a pouco”, completa.

Para atender a demanda por uma diversidade de produtos, a PontoEco conta com uma rede de fornecedores, na qual a Manacá produz e abastece parte das verduras e legumes orgânicos, além de ser um dos sócios, compartilhando decisões estratégicas e gerenciais.

Entregas em domicílio

O sócio-fundador faz questão de ressaltar que, apesar do crescimento e do surgimento de novas formas de negócio, o foco da Manacá Orgânicos continua sendo as entregas em domicílio. “As pessoas cadastradas recebem semanalmente uma lista com os produtos disponíveis e fazem o seu pedido”, explica Wagner, indicando que tanto pessoas físicas quanto restaurantes podem se tornar clientes da empresa. “Os restaurantes foram se agregando ao longo do tempo, com os quais fomos estabelecendo uma relação de confiança e parceria”.

Foto: Sylvia Wachsner (OrganicsNet/CI Orgânicos)

O contato pessoal dos clientes com a Manacá Orgânicos é feito, principalmente, nas feiras da Junta Local, comunidade que reúne pequenos produtores e pessoas que compartilham do objetivo de comer bem e de forma consciente.

Desafios e futuro

Apontando as fragilidades a serem vencidas, principalmente no que diz respeito à produção de legumes e verduras in natura na região serrana do Rio de Janeiro, onde o sítio está localizado, Wagner cita a baixa cooperação entre os produtores, o que poderia oferecer uma diversidade de produtos e, ainda, ratear os custos de transporte e comercialização e a precariedade na logística para atender a demanda concentrada na cidade do Rio de Janeiro, o que encarece os custos do transporte. Ele cita ainda a instabilidade do sinal de internet e telefonia celular na região, o que dificulta a comunicação com clientes e fornecedores. Tão perto do Rio, mas em determinados aspectos ainda tão distante. “A atenção, no nosso parecer, deve se voltar para a cadeia produtiva como um todo, visando baixar custos de transporte e comercialização”, afirma. O sócio-fundador fala ainda sobre a importância do investimento em tecnologias da informação para o crescimento do mercado orgânico. “A Manacá Orgânicos nasceu a partir de uma plataforma tecnológica que dá suporte ao serviço de delivery e nos permitiu crescer”.

Para Wagner, o futuro do mercado orgânico é promissor no Brasil. “Temos um número cada vez maior de jovens pais que buscam alimentos orgânicos para seus filhos”, analisa. “Produzir dentro de uma concepção agroecológica e orgânica tem recebido apoio do poder público com ganhos para o ecossistema, para quem produz e para o consumidor final”.

Serviço:

E-mail: contato@manaca.eco.br

PontoEco: Shopping Fashion Mall – Primeiro piso (Estrada da Gávea, 899 – São Conrado – RJ)

A Manacá Orgânicos é parceira da rede OrganicsNet. Acesse a página da empresa em nosso site clicando aqui. 

Jéssica Silvano

Redação OrganicsNet/CI Orgânicos

E-mail: jessicasilvano@sna.agr.br

 

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