Green Rio reúne debates e produtos orgânicos
Numa iniciativa do Planeta Orgânico e com participação da Sociedade Nacional da Agricultura (SNA) foi realizado durante a Rio+20 o Green Rio, que reuniu atores do Governo, da pesquisa, sociedade civil e empresários envolvidos com a Economia Verde durante dois dias de debates. O evento também contou com uma feira de produtos orgânicos e workshops de gastronomia. Anfitriã do evento, Maria Beatriz Bley Martins da Costa, diretora do Planeta Orgânico, comemorou o elevado grau das discussões e o interesse do público presente ao Green Rio.
A Ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, abriu o painel sobre Biodiversidade e Economia Verde ressaltando o fato de a agenda social estar hoje em um novo momento para o debate, incluindo amplos setores da sociedade e empresários. “A grande novidade da Rio+20 é a inclusão social, o debate da pobreza”, disse Tereza Campello. Para a ministra, além da sustentabilidade ambiental é preciso a inclusão de uma agenda de acesso de 1,4 bilhões de pessoas que se encontram à margem da produção e do consumo no mundo. Lembrou que apesar da crise mundial, iniciada em 2008 e agora agravada na Europa, o Brasil está investindo na economia e no social. Destacou os programas sociais do Governo, como o Bolsa Família e, mais recentemente, o Bolsa Verde – ainda restrito às comunidades extrativistas – que esperam tirar 16 milhões de brasileiros da pobreza.
Tereza Campello também destacou o Plano de Sociobiodiversidade, uma ação interministerial que incentiva o uso das riquezas naturais do país por populações tradicionais, que coletam os produtos da floresta e têm garantia de aquisição pelo Governo para a merenda escolar. Um programa que, segundo ela, disponibiliza alimentação saudável, valorização da cultura e dos produtos regionais, fortalecimento da agricultura familiar e, por ser regional, redução das emissões dos gazes de efeito estufa. A ministra criticou empresários que fazem “doações pontuais e transitórias” e não se comprometem no longo prazo com os atores envolvidos em suas atividades econômicas: “Não queremos favor e sim oportunidades. Precisamos de parcerias e geração de negócios”.
Tereza Campello fala sobre Piso Socioambiental
Piso Socioambiental
Ela elegeu como um avanço da Rio+20 a inclusão no documento final apresentando aos governos e chefes de Estado o Piso Socioambiental, um piso de proteção social global que prevê a transferência de renda e apoio às populações pobres. Tereza Campello falou ainda da Rede Brasil Rural, do Ministério do Meio Ambiente, que vem organizando, capacitando e incorporando comunidades para que elas se tornem fornecedores de produtos locais. Disse que o Brasil vive hoje um quadro de escassez de mão de obra e que, por isso, o Governo fará a capacitação profissional de um milhão de trabalhadores do Bolsa Família.
Crise Mundial
Hans Joehr, representante do programa Farms Conect da Nestlé, multinacional que atua em 52 países e reúne cerca de 700 mil fazendeiros se ateve à crise mundial. “O mundo hoje tem governos quebrados, na Europa a população envelhece sem adequada assistência à saúde e com problemas na Previdência”, enfatizou. Em sua opinião, diante desse quadro, o documento final da Rio+20 ficou aquém das expectativas. Joehr fez críticas ao sistema financeiro mundial, que, segundo estima, “demandará cinco planetas Terra” para sobreviver no futuro. Quanto à inclusão socioambiental, o executivo acredita que deve ter base econômica, com quadros de produção definidos.
Investimentos
O gerente da Unidade Industrial da Natura em Benevides (Pará), José Renato Cagnon, ressaltou as parcerias firmadas entre a indústria de cosméticos e comunidades tradicionais, iniciada há cerca de uma década, o que demandou a construção da unidade industrial no Pará, em 2003. Hoje, a sociobiodiversidade responde por 10% das matérias-primas utilizadas pela Natura, envolvendo 13 cooperativas e 1.200 pessoas, com ênfase no fator humano (“a quarta perna da sustentabilidade”). Para exemplificar a parceria da empresa com as comunidades tradicionais ele lembrou que o cacau produzido às margens da Transamazônica era de má qualidade e hoje sustenta seis cooperativas que coletam produto orgânico certificado. Como prova da perenidade dessa relação, Cagnon anunciou a renovação, por mais dois anos, da parceria com a agência de fomento alemã Gíz e investimentos de R$ 150 milhões na construção de uma nova unidade fabril na região, com tecnologias totalmente sustentáveis, pesquisadas em Dubai, em maio de 2013.
A visão das comunidades
Coordenador do Programa de Produção Orgânica da Fundação Viver Produzir e Preservar, da Amazônia, Jodielcio Oliveira citou a música “A estrada”, do grupo Cidade Negra, para resumir seu trabalho: “Vocês não sabem o quanto eu caminhei para chegar até aqui”. Lembrou que o trabalho mais árduo para viabilizar essas parcerias está no campo, junto aos produtores. Mas admite que as parcerias com empresas do porte da Natura valorizam o produto local. Ele defendeu o cacau como uma das culturas amazônicas que mais se harmonizam com a floresta. Já Manoel Monteiro, representante da CooperAcre, central cooperativa que reúne 2.000 famílias extrativistas (exceto madeira) e fornece Castanha do Brasil para a Nestlé, valorizou as parcerias para a estruturação das cadeias de produção por meio da educação e de sistemas de gestão e conhecimento do mercado. Em defesa dos parceiros, reivindicou a desoneração fiscal para quem compra produtos do extrativismo, também uma forma de agregar valor aos produtos da floresta.
Críticas ao Governo
Outra empresa que atua em cinco estados do país na cadeia extrativista, a Beraca também anunciou a renovou de convênio, no valor de US 1 milhão, com a Gíz, além de ter fechado acordo de fornecimento de matéria-prima para a L’Oreal. Seu diretor cooperativo, Daniel Sabará, disse que a Beraca tenta adquirir das comunidades mais de um tipo de produto, para que as diferentes safras permitam a geração de renda em várias fases do ano. Ele acredita que os programas de Governo podem prejudicar o estabelecimento das parcerias entre comunidades extrativistas e empresas. “O assistencialismo do governo, com suas bolsas pode atrapalhar as parcerias da iniciativa privada”, criticou.
Fonte: Sociedade Nacional de Agricultura