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Nova geração dá continuidade à produção biodinâmica

10 de maio de 2016
Arroz Volkmann, foto OrganicsNet
Imagem: OrganicsNet

Produzir sem agrotóxico dá trabalho. “O maior capricho possível no preparo do solo é na irrigação, porque arroz quer água, até na panela quando vai cozinhar, então esse manejo da água tem que ser o mais perfeito possível”, explica o agricultor João Volkmann.

Investir num bom sistema de canais e comportas pra manejar a água de irrigação, ajuda a manter a lavoura saudável. “Porque a própria água é que vai fazer o controle das plantas invasoras ou quando temos problemas de inseto na raiz, a gente tem que suprimir a água. E tem que ser possível fazer a drenagem e a irrigação em cada momento que é necessário”, diz.

Para dar conta da lavoura, dos animais e do beneficiamento do arroz, a fazenda tem 15 funcionários fixos. Que além de ter todos os direitos trabalhistas garantidos, são tratados com muito respeito. Família e colaboradores almoçam juntos, partilham a mesma comida e dividem responsabilidades.

Wilmar Forte, 47 anos, trabalha na fazenda há quase 30. “Eu me criei trabalhando aqui. O que aprendi a fazer foi aqui. Se sei fazer hoje uma cerca, aprendi aqui. Se sei trabalhar no trator, foi aqui. Se sei ajudar no campo, foi tudo aqui. O que ganha aqui dá pra viver tranquilo”, conta.
O conhecimento aprendido em décadas de trabalho, hoje é compartilhado com quem quiser aprender. Essa, aliás, é outra regra da biodinâmica.

COMPARTILHAR O CONHECIMENTO

Ao longo do ano, vários cursos são realizados na fazenda e toda semana tem visita. Como alunos do curso de agronomia da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, presente na fazenda durante a reportagem.

“É um desafio mostrar ao aluno que há possibilidade de produção sem o uso de agrotóxicos. De entender a agricultura de uma outra forma. Eu chamo da filosofia da abundância. Ao invés de querer exterminar as pragas, que a gente vê, como a filosofia da miséria. Então, o que a gente quer é partilhar desta experiência de produzir um alimento saudável”, comenta Janaína Bernardo, professora. “Aqui já existe o arroz como uma área de empreendimento forte. A nossa intenção é começar a explorar aquilo que a fazenda já tem. Conseguir estabelecer isso numa produção. Embora pequena, mas que possa ser o início de uma produção maior”, conta.

Sebastian está selecionando búfalas que são boas produtoras de leite. Na cozinha de casa, ainda de forma experimental, Gabriela faz queijos. Atividade que aprendeu na Alemanha, na fazenda biodinâmica onde estudou e morou por um ano e meio. “Porque é uma coisa muito rápida, uma transformação, uma mágica mesmo que acontece”, diz. Como ainda é pequena, a produção, por enquanto, é usada para abastecer a fazenda.

Jorge Volkmann é sobrinho de João e segue a mesma trilha. Aproveita plantas da fazenda, como a pimenta verde, uma erva nativa da região para produzir chás biodinâmicos. E também trabalha com essências exóticas, como a lótus, planta aquática originária da Ásia, que cresce muito bem nos lagos da propriedade.

“A planta toda é boa para o chá, mas a flor de lótus torna ela mais auspiciosa e os orientais gostam muito da parte da flor, porque acreditam que ela traz desde a lama até o calor do sol”, explica. Jorge montou uma pequena agroindústria, onde produz mais de 50 tipos diferentes de chá. O processo é simples. As plantas são lavadas, higienizadas e depois desidratadas num secador movido a energia solar.

A fazenda tem cerca de 560 hectares e permite que todos vivam com conforto. “Hoje o custo de produção de uma tonelada de arroz gira em torno de R$ 2.500 e nós vendemos a R$3 o quilo”, afirma João.

Com recurso, paisagem e solo fértil, a fazenda ainda guarda muitas possibilidades para a família de seu João. “Deixo um legado, entregando uma terra muito melhor do que a que eu recebi, isso deixa a gente tranquilo, porque a terra não é nossa, a gente está aqui só de responsável”, declara João.
Responsabilidade, respeito, amor à terra… Ferramentas que não são palpáveis, mas que certamente levam à sustentabilidade. Assim, a majestosa figueira do jardim de João, ainda poderá testemunhar a passagem de muitas gerações de agricultores da família Volkmann, que terão no tempo não um inimigo e sim um grande parceiro.

Fonte: Globo TV

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