Apesar do crescimento, setor orgânico ainda enfrenta desafios

O mercado de produtos orgânicos segue apresentando um forte potencial de crescimento no Brasil, o que vem chamando a atenção de grandes players da indústria. Apesar desse cenário favorável, a expansão ainda esbarra em desafios para uma produção em larga escala.
Considerando a produção agrícola e o varejo, somente no ano passado, o segmento orgânico movimentou R$ 3 bilhões no país. Segundo o diretor do Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis Brasil), Ming Liu, a previsão para 2017 é chegar a R$ 3.7 bilhões, o que representaria uma alta de até 25% em relação ao ano anterior.
Essa estimativa de crescimento se deve a uma série de fatores, começando pelas fusões e aquisições que têm movimentado esse mercado nos últimos meses, como a compra da empresa de produtos orgânicos e naturais Mãe Terra pela gigante Unilever. A compra já foi aprovada, no último dia 11, pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). “Quando grandes empresas começam a entrar no mercado, aumenta a oferta de produtos e o acesso do público, o que promove o crescimento de toda a cadeia”, afirmou Ming Liu.
O diretor do Organis Brasil destaca ainda o crescente número de feiras que vendem alimentos orgânicos. De acordo com o Mapa de Feiras Livres do Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC), atualizado no mês de setembro, são quase 650 pontos de venda no país. “O consumidor busca rastreabilidade, quer saber a origem de seu alimento e quer ter a garantia de que o produto é saudável”, afirma Liu.
Uma pesquisa recente encomendada pela Organis mostrou que, para 41% dos consumidores, o preço é um limitador para finalizar a compra de algum tipo de produto orgânico. Diante disso, segundo Sylvia Wachsner, coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos (CI Orgânicos), da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), o consumidor tem buscado nas feiras e nos serviços de entrega de cestas em domicílio, opções mais baratas. “O varejo trabalha com margens muito elevadas, o que prejudica a venda”, explica. “Também é preciso que as redes façam parcerias com os produtores para fomentar o cultivo de orgânicos”, acrescentou Sylvia.
Potencial de crescimento
Desde 2009, Pedro Paulo Diniz, proprietário da Fazenda da Toca, se dedica à produção de orgânicos em Itirapina (SP) e defende um esforço coletivo para tornar os produtos mais acessíveis. “Com certeza o preço é uma barreira ao consumidor, mas acredito que dá para produzir de forma competitiva e com preço acessível, se houver uma parceria entre produtores e varejistas”, afirma Diniz.
O proprietário da Fazenda da Toca também estima um crescimento de mais de 20% neste ano. “A produção de alimentos orgânicos no Brasil tem um potencial enorme, uma vez que ocupa menos de 1% da área de agricultura do país e tem uma grande possibilidade de melhorar sua estrutura”.
Mesmo com essa perspectiva positiva, o setor ainda encontra uma série de dificuldades para consolidar sua expansão. “Este ainda é um mercado em construção”, é o que afirma a coordenadora do CI Orgânicos. Na pecuária, por exemplo, a produção de grãos orgânicos é um entrave para a criação de animais, sejam bovinos, aves ou suínos. Essa escassez na oferta pesa, em especial, para as aves, que dependem muito dos grãos para a alimentação. “Temos frango caipira e sustentável, mas o orgânico mesmo são poucas as opções e o valor para o consumidor é alto”, destaca Sylvia. Para ela, o mesmo vale para a produção de leite orgânico. E, alerta ainda, em relação a produção de frutas, para a falta de escala na produção. “No Sul do País, algumas cooperativas já têm produção suficiente e, inclusive, fabricam sucos orgânicos, mas essa ainda não é a maioria do mercado”, afirma.
Sylvia ainda critica o cadastro de produtores do Ministério da Agricultura (MAPA). “Temos a estimativa de que a área cultivada seja de 1 milhão de hectares e 15.000 unidades de produção no país, mas não temos certeza, já que o cadastro não exige esse tipo de informação do produtor que é fundamental para definirmos estratégias”, disse.
Fonte: DCI – Diário do Comércio, Indústria & Serviços
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