Irrigação aposta no cultivo de itens orgânicos
Produtores do Perímetro Irrigado Tabuleiro de Russas, sertão do Ceará, superam as dificuldades e estão tendo êxito com a agricultura orgânica. A produção sustentável é uma tendência mundial diante dos malefícios causados pelos agrotóxicos à saúde do homem. Mesmo com a resistência de parte da sociedade e a falta de políticas mais efetivas que estimulem e consolidem a produção sustentável, os produtos têm sido bem comercializados no mercado regional.
O presidente da Associação de Produtores de Orgânicos do Tabuleiro de Russas (Optar Orgânicos), Claudio Moreira, conta que os produtores se animaram diante das primeiras experiências com a cultura.
Há três anos, alguns pequenos irrigantes incrementaram sua produção com a agricultura orgânica, pouco difundida na região e já obtiveram bons resultados, visto que o mercado vem procurando cada vez mais esses produtos.
“Não é um alimento orgânico somente porque não se usa agrotóxico. A agricultura orgânica é, na verdade, um estilo de vida, tanto para quem consome quanto para quem produz. É uma cultura de sustentabilidade que chega até a mesa das pessoas e envolve famílias e meio ambiente, todos convivendo de forma harmoniosa”, explica.
Para levar informação aos produtores afim de organizar a produção, há dois anos foi criada a Optar Orgânicos, através de parceria com o Sebrae. Com o intuito de conscientizar os produtores sobre a temática e adequar a produção de orgânicos às novas exigências, a associação tem atingido seus primeiros resultados.
“Dizer que um alimento é orgânico não é só deixar de colocar agrotóxico, tem toda uma exigência como a relação do trabalhador com a produção, não é permitida a utilização do trabalho infantil, o uso consciente dos recursos naturais, do solo, da água. O trabalho é baseado em ética e sustentabilidade”, enfatiza Cláudio.
Lotes
Atualmente no Tabuleiro de Russas 17 lotes estão produzindo alimentos orgânicos. Dentre as culturas cultivadas estão a acerola (sendo o principal produto), banana, goiaba, mamão, melancia, abóbora, macaxeira, batata doce e feijão. Uma boa parte da área está reservada a produção de acerola orgânica.
“A nossa acerola é muito procurada, estamos comercializando em média 10.000 kg de acerola por mês, principalmente aqui na região. O produto vai principalmente para casas que processam a fruta para fazer poupa”, afirmou Moreira.
De acordo com o produtor José Edis, mais conhecido como Dedé, mesmo com a crescente procura tem sido difícil comercializar a acerola como produto orgânico. Lembra que há certa resistência dos compradores. “Infelizmente mesmo produzindo um alimento orgânico, ele é vendido como convencional. Então as pessoas que compram não sabem que esse alimento é orgânico”, lamenta. Segundo ele, devido à burocracia e à legislação mais rígida com relação aos produtos orgânicos, algumas fábricas processadoras de frutas preferem não se adequar e assim permanecem vendendo o produto como convencional.
A associação possui o selo IBD orgânico, onde permite que os produtos sejam comercializados no país e na Europa. Mas devido a pouco produção só é possível atender o mercado local.
Dedé cultiva em seus 8.5 hectares macaxeira e batata doce. Quatro hectares de seu terreno são destinados para a macaxeira e para a acerola, que estão com preços mais valorizados no mercado. “Hoje é uma procura muito grande por farinha de mandioca, com a baixa produção o quilo está chegando há R$ 7,00. A acerola esta com um preço bom, nós vendemos o quilo a R$ 1,30. Uma caixa de 23 quilos sai daqui a um preço de R$ 34,00” comemora o agricultor.
Claudio conta que produzir alimentos orgânicos é mais barato do que o convencional, porque tudo que é utilizado como adubo e pesticida, é encontrado na própria natureza.
“O custo com bioadubação e inseticidas naturais é praticamente o que se gasta com o deslocamento. Nós utilizamos os mais diversos materiais para a nossa produção como folhas de poda de árvores, miolo de mamona (resultante do processamento para retirada o óleo), cinza de madeiras de cajueiro, muito utilizada como combustível para os fornos de cerâmica, enfim, tudo o que geralmente é jogado fora nós transformamos em adubo e inseticida na plantação”, explica o produtor.
O que tem faltado, de acordo com Claudio, é um incentivo para produção. “Seria muito mais cômodo para nós chegarmos em um lugar onde pudéssemos encontrar tudo o que precisamos, assim como na produção convencional, mas tudo é feito por nós. Cada vez mais as pessoas estão necessitando de alimentos mais saudáveis e os produtores só necessitam de apoio. Os alimentos orgânicos não vão substituir os convencionais, mas é preciso que haja incentivo para esse tipo de produção”, explica.
Pesquisa
Em pesquisa divulgada pelo Diário do Nordeste, em 24 de maio do ano passado, constatou-se que produtos orgânicos vendidos em estabelecimentos comerciais de Fortaleza estavam isentos de qualquer contaminação por agrotóxicos. Pelo menos foi o resultado da pesquisa exclusiva feita pela Fundação do Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará (Nutec), solicitada pelo jornal. A avaliação focou amostras de pimentão, alface, tomate, pepino e bananas, que foram examinadas tendo como base ingredientes ativos em pesticidas utilizados como defensivos agrícolas. Na ocasião, a médica e professora do Departamento de Saúde Comunitária e coordenadora do Núcleo Trabalho e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Ceará (UFC), Raquel Rigotto, observou que os resultados demonstraram a viabilidade do governo valorizar mais a agricultura orgânica.
Raquel lembrou que a alimentação convencional, susceptível ao uso dos pesticidas, são danosos tanto para o consumidor, quanto para os trabalhadores rurais. Os estudos comprovam a relação de incidência de casos de cânceres, além dos danos para o meio ambiente, com a contaminação do solo.
Vantagens
17 lotes estão produzindo alimentos orgânicos. Dentre as culturas cultivadas estão a acerola banana, goiaba, mamão e feijão.
R$ 7 é o preço do quilo da farinha orgânica, representando em vantagens econômicas consideráveis para o irrigante.
Mais informações
Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA)
Comitê Copa Orgânicos
Telefone: (85) 3101 8004
http://www.sda.ce.gov.br
Copa do Mundo propicia incentivo
Produtores de orgânicos terão acesso a linhas de crédito para serem fornecedores para a Copa do Mundo. Entre os clientes estão hotéis, restaurantes e supermercados, durante a Copa das Confederações neste ano e para a Copa do Mundo Fifa, em 2014. os recursos sairão do Fundo Estadual de Desenvolvimento da Agricultura Familiar (Fedaf ou do Pronaf, para que produtores rurais no Ceará ampliem a sua produção.
Os orgânicos são mais saudáveis e livres de agrotóxicos e demais produtos químicos, daí o interesse na comercialização direto do produtor. O interesse deverá se expandir durante o evento internacional que acontecerá no Ceará
A notícia, dada após reunião entre o Comitê da Copa Orgânico e representante de associações de agricultores familiares, realizada no mês de fevereiro, animou os pequenos irrigantes do Perímetro Irrigado Tabuleiro de Russas, que veem como uma grande oportunidade o fornecimento de alimentos para a Copa. De acordo com o presidente da Optar Orgânicos, Claudio Moreira, desde o ano passado há essa discussão da participação de produtos orgânicos oriundos da agricultura familiar no cardápio de atletas e turista no período dos jogos.
“Nós ficamos empolgados com a possibilidade de sermos fornecedores desse grande evento, mas até agora ainda não está muito claro para nós como será realizada essa parceria e se podemos efetivamente participar dela”, afirma Moreira.
A Associação dos Produtores de Orgânicos do Tabuleiro de Russas possui o selo de produto orgânico que permite sua venda para fora do país. Porém, como a produção ainda é pequena, tudo o que é produzido abastece basicamente o mercado interno. Há uma série de exigências para que os produtores possuam este selo, envolvendo desde os impactos ao meio ambiente, as qualidades do alimento e envolvimento da comunidade na produção.
De acordo com o secretário adjunto do Desenvolvimento Agrário e coordenador do Comitê Copa Orgânica no Estado, Antônio Amorim, é preciso que os produtores de orgânicos identifiquem sua capacidade de produção e sua produção atual, além de informarem os negócios que estão sendo feitos com os produtos. Ainda segundo ele, a busca por linhas de crédito para aumento da produção para o evento valoriza e fortalece a agricultura familiar do Estado. “Esses dois eventos vão exigir produtos de qualidade e nós temos uma excelente oportunidade para valorizar a agricultura familiar”, afirmou Amorim. Os produtores que já possuem certificação terão acesso às linhas de crédito.
Os produtos orgânicos são mais saudáveis e livres de agrotóxicos e demais produtos químicos. A atividade produtiva é em equilíbrio com o meio ambiente, evitando a contaminação do solo, água e vegetação. Os adubos e inseticidas usados nas plantações também são orgânicos e os custos para a produção são baixos. Moura complementa que tudo é retirado da própria natureza, e em outros casos reaproveitando materiais orgânicos descartados.
“Nós utilizamos na nossa produção muito do que é jogado fora então isso deixa nossa produção barata e diante do aumento da procura o produto fica mais valorizado”, comemora.
A SDA vem se reunindo com produtores para estimular a produção em larga escala de produtos orgânicos. O intuito é incentivar a produção não somente para os eventos esportivos, mas para fortalecer a cultura no estado. Atualmente o número de produtores orgânicos com registro e cultivo protegido ainda é pequeno. Há cerca de 150 no Estado.
Parcerias
Amorim explica que a grande dificuldade para os produtores são os custos para a certificação orgânica, onde muitos não conseguem custear.
“A SDA possui uma política de fazer a certificação orgânica coletiva, mas ela não serve para exportação. Essa certificação só é utilizada para o mercado interno. Então a dificuldade dos custos faz com que não tenhamos um número maior de produtores de orgânicos com certificação”, explica.
Para a Copa das Confederações, Amorim afirma que haverá a limitação com relação a alguns produtos, mas para a Copa do Mundo a situação será diferente. “Nós temos que ter uma programação de no mínimo um ano pra checar determinados produtos. Na parte de fruticultura nós já conseguimos formar as parcerias”, disse.
Fonte: Diário do Nordeste
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