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Dificuldade em multiplicar sementes orgânicas

18 de novembro de 2013
Foto: Sylvia Wachsner
Fotos: Sylvia Wachsner

No Brasil, a maioria das frutas e hortaliças orgânicas são produzidas a base de sementes convencionais. O Ministério da Agricultura, que imaginou que poderia acabar com essa contradição determinando que antes do fim de 2013 toda a produção do setor só utilizasse sementes orgânicas, teve que recuar.  Os produtores, ante a falta de sementes orgânicas, vieram-se ameaçados, mas o tema ainda preocupa os agricultores.

A Fazenda Malunga, de Brasilia, certificada como orgânica e uma das maiores produtoras de hortaliças orgânicas  com 50 hectares plantados com 25 tipos diferentes de verduras e legumes,  recorre ao mercado convencional na hora de plantar.

A Fazenda Malunga e a maioria dos produtores orgânicos, utilizam  sementes convencionais. Elas estão dentro da lei que permite o uso de sementes não orgânicas, nesse sistema de cultivo. Se a fazenda resolvesse usar sementes orgânicas, produziriam uma variedade menor de hortaliças. Atualmente, não existe no mercado nenhuma empresa que ofereça sementes orgânicas que  substituam as mudas na escala de produção da fazenda.

Há 27 anos, o proprietário Joe Valle planta orgânicos mas, mesmo com 220 funcionários, ele desistiu de produzir suas sementes. “Nós teríamos que ter, vamos dizer, uma outra empresa, uma outra fazenda, um outro espaço só para a produção de sementes. A gente não quer produzir semente nesse momento porque a gente não tem aptidão, não tem perfil, não tem habilidade nem conhecimento suficiente pra produzir semente. Muitas sementes precisam de climas completamente diferentes dos que temos aqui hoje”,  diz Valle.

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A produção de sementes orgânicas existe no Brasil, mas em quantidade reduzida e fica restrita aos pequenos agricultores.  Jorge Horita, em São Paulo planta 50 variedades de grãos, raízes e hortaliças e só consegue multiplicar sementes de 20 delas. Todas as sementes produzidas na propriedade são para consumo próprio. O produtor que tem 8 hectares plantados,  se fosse produzir as sementes próprias, teria que abrir mão de boa parte da área de cultivo.

“Eu imagino que comprometeria em torno de uns 50% dessas áreas porque elas não podem estar em movimento. Elas têm que estar intactas, preservadas. Então, eu destinaria uma grande área. Eu perderia uma grande área produtiva”, diz Horita.

Já que a produção de sementes orgânicas em todo o país é pequena, uma das formas de consegui-las é fazer a troca entre os próprios agricultores da região. No sul de Minas Gerais, 28 agricultores biodinâmicos, formaram uma associação e há quatro anos produzem as próprias sementes. Eles já são auto-suficientes em 15 cultivares. Agora, o grupo faz experimentos para aumentar a lista a partir da próxima safra.

Uma empresa de sementes convencionais, em Goiás, abastece boa parte do mercado brasileiro e ainda exporta para mais de cinco países. A semente de tomate é separada na hora da colheita. A máquina colhe o fruto que passa pela esteira rolante. Depois, é feita a limpeza com a separação de galhos e folhas. Só o fruto vai para a extratora, onde é esmagado e o que sobrou da polpa vira adubo para o próximo plantio de verão, que será de soja. As sementes inteiras seguem para as bombonas.

Na unidade de beneficiamento, as sementes ficam nos tambores por até 72 horas, fermentando, para soltar a mucilagem. Depois, na lavagem, ganham um banho de ácido clorídrico, por 15 minutos, para eliminar fungos e bactérias. Então, vão para o secador, até ficar com apenas 7% de umidade. Daí, partem para a matriz da empresa, em  São Paulo.

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As sementes de todas as espécies passam por uma análise de qualidade. No laboratório é feito o teste de germinação em pequenas amostras. Quando o lote é aprovado, o produto vai para o processo de beneficiamento.

Algumas sementes são tão valiosas que não podem ser vendidas a quilo. A comercialização é feita por unidade. A empresa usa uma máquina israelense projetada para contar diamantes e que foi adaptada pelo próprio fabricante para reconhecer sementes. O equipamento faz a contagem uma a uma antes de a semente ir para a embalagem.

A empresa testa até 3.000 novas variedades por ano, procurando um produto que agrade. Só 5% costumam vingar. “É como qualquer outra indústria. Você tem que confirmar o resultado antes de colocar para o consumidor final. Então, você testa em diferentes regiões, em diferentes épocas de cultivo, em diferentes solos, em diferentes condições de luz e de doenças também”, diz o agrônomo Maurício Coutinho, responsável pelo experimento.

O dono da empresa, Steven Udsen, diz  “É um processo bastante demorado pra fazer a pesquisa genética que leva a um produto que tenha tanto um apelo comercial para o produtor, para o consumidor final. Tudo isso tem que levar em conta”, resultando num investimento elevado.

Mesmo com tanta experiência, Udsen explica que se eles quisessem começar uma produção de sementes orgânicas hoje, não conseguiriam. “Não em larga escala. É sempre o mercado que determina o interesse. Se existir uma demanda para esse tipo de produto, eu acho que, como qualquer empresa, é dever nosso focar nisso. Mas hoje essa demanda nessa escala não existe”, explica.

“Os materiais que existem são suficientes? Eles atenderiam a todos os produtores nas diferentes situações do Brasil? Então, a gente precisa estar avaliando porque a legislação é nacional. Muito provavelmente, com o passar do tempo, a gente vai passar a ter listas de materiais que não poderá usar sementes convencionais por ter material adequado no Estado”, opina Rogério Dias do Ministério da Agricultura.

A Embrapa, em Brasília, é a sede do terceiro maior banco de sementes do mundo. A empresa faz algumas pesquisas com sementes orgânicas,  tratadas com óleos essenciais, extrato de verme composto e termoterapia. Tudo é feito para tentar substituir os produtos químicos. Alguns produzem resultados animadores.

A pesquisadora de orgânicos da Embrapa, Mariane Vidal, aponta que a pesquisa voltada para a produção orgânica é recente, o foco da agricultura foi o sistema convencional.

Na União Europeia, todos os produtos agroecológicos têm que ser produzidos a partir de sementes orgânicas. Existe um banco de sementes que reúne todas as espécies disponíveis para os agricultores. Quando um produtor decide cultivar uma variedade que não está disponível nesse banco, ele é obrigado a pedir uma autorização específica para usar uma semente convencional.

Fonte:  Globo Rural

Clique na imagem abaixo e confira a reportagem completa:

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