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Agricultor em transição agroecológica eleva produção bruta e valor agregado

10 de abril de 2023

Em 2012, a família do jovem produtor Ramon Ximenes, no sertão cearense, iniciou a transição do modelo convencional para o sistema agroecológico e passou a colher frutos desta transformação com aumento da produção bruta e do valor agregado.

No sertão cearense, a família cria caprinos, ovinos, bovinos, suínos, aves, peixes e abelhas, além de cultivar árvores frutíferas, palma, gliricídia e uma área de pastagens para alimentar o rebanho.

A transição agroecológica é um processo gradual de mudança dos manejos no sistema de produção com o objetivo de trocar o modelo convencional pela prática da agricultura com princípios e tecnologias de base ecológica.

O processo implica maior racionalização dos recursos e mudança de atitudes e valores em relação ao manejo e à conservação dos recursos naturais.

“Comecei a participar desse processo de transição porque eu queria trabalhar preservando a natureza”, afirmou Ximenes, 20 anos, em nota da Embrapa.

Além de cuidar dos animais e da plantação, ele participa de reuniões e eventos em que troca conhecimentos com outros agricultores.

Mudanças

Entre as modificações implantadas ao longo do processo na propriedade, ele destaca a estrutura para armazenamento de forragem e água para os animais, além da instalação de um galinheiro e de uma área cercada para animais e plantas.

A família de Ramon é uma das 70 participantes de uma pesquisa da Embrapa Caprinos e Ovinos feita com pequenos produtores do Sertão de Crateús e Sertão de Sobral, para avaliar os efeitos das diferenças de estágio da transição agroecológica.

De 2012 a 2021 foram comparados aspectos quantitativos (produção bruta e valor agregado) e qualitativos (autonomia e protagonismo da juventude) nas duas regiões.

O resultado revela um aumento da renda das propriedades que adotaram práticas agroecológicas há mais tempo quando comparadas com aquelas que estão no início do processo ou ainda praticam agricultura de forma tradicional.

“A maioria dos agricultores que aderiram a esse sistema está em nível intermediário da transição, quase não usa mais insumos químicos e não adota pacotes tecnológicos fechados. Isso é resultado de um redesenho que faz modificações na estrutura e no funcionamento das propriedades”, explica o zootecnista Éden Fernandes, líder do projeto Redinovagroeco, que realizou esse estudo.

Metodologia

O estudo aplicou a metodologia em quatro propriedades, duas em cada região, entre 2018 e 2022. Em cada território, foram avaliadas uma propriedade em estágio mais avançado de transição agroecológica e outra de porte semelhante que não aderiu ou entrou mais tardiamente.

Nas duas regiões, as propriedades há mais tempo em transição obtiveram valores mais altos que os da propriedade que pratica agricultura de forma tradicional tanto no produto bruto (tudo o que é produzido) quanto no valor agregado, que exprime a riqueza efetivamente gerada e equivale à renda bruta menos os custos relacionados aos insumos adquiridos nos mercados

No Sertão de Sobral, a propriedade mais avançada registrou um produto bruto de R$ 4.490 e um valor agregado de R$ 3.295.

A outra somou R$ 1.570 de produto bruto e R$ 1.125 de valor agregado e destinou a maior parte da produção para o autoconsumo.

Já o sítio em transição destinou a maior parte para a geração de renda, depois autoconsumo, estoque e doação e ainda registrou aumento no volume de produtos comercializados, pela participação em ações do projeto que visam ao acesso dos agricultores a novos mercados.

No Sertão de Crateús, as propriedades avaliadas são da localidade Picos de Baixo (Santa Quitéria). Enquanto uma delas está em estágio mais avançado, a outra intensificou a transição agroecológica somente a partir de 2021.

Resultados

Nesse território, também se observou crescimento do produto bruto na propriedade que iniciou a transição agroecológica há mais tempo (R$ 33.600 ante R$ 9.125). Já a diferença de valor agregado entre as duas propriedades foi de R$ 13.315 para R$ 6.840.

“As famílias alcançaram maior independência em relação a adubo orgânico, água, sementes e produção de forragem, diminuindo a necessidade da compra de insumos para a produção em mercados”, explica a zootecnista Maria Gardênia Sousa, que também trabalhou na pesquisa.

Houve ainda um aumento da biodiversidade animal e vegetal nos sistemas produtivos, estoque de insumos e na diversidade de mercados acessados.

Além dos aspectos econômicos e da autonomia maior dos produtores, os pesquisadores destacaram ganhos na capacidade de resposta dos agricultores familiares quanto às mudanças nos entornos social, econômico e ambiental; integração social, relacionada à participação em outros espaços fora da propriedade e acesso às políticas públicas; equidade de gênero e protagonismo das mulheres; e protagonismo da juventude, que garante a sucessão familiar no trabalho.

Fonte: Globo Rural

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