Alimentos orgânicos enfrentam problema de escala devido ao valor elevado

Em setembro, a Folha realizou o fórum “Agronegócio Sustentável” com o objetivo de discutir os desafios para o desenvolvimento do setor no país. O evento contou com a participação de especialistas em agricultura orgânica que chegaram a seguinte conclusão: para incrementar a escala da produção orgânica, barateando o custo para o consumidor, é necessário que se invista em pesquisas para o desenvolvimento de boas práticas de manejo, políticas públicas de incentivo e na difusão de informação para produtores.
“Nossa experiência mostra que é possível desenvolver a produção em uma escala capaz de gerar boa renda para o produtor”, afirmou o coordenador do grupo Gestor do Arroz Agroecológico, pertencente ao MST, Emerson Giacomelli.
Segundo ele, para atingir essa escala é essencial o desenvolvimento da pesquisa, a ampliação da assistência técnica e a concessão de investimentos governamentais para o produtor, como investimentos e crédito facilitado.
Para Sylvia Wachsner, coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos da Sociedade Nacional de Agricultura, pesquisas indicam que o consumidor, preocupado com a saúde, está disposto a pagar mais pelos orgânicos, produtos que são cultivados sem agrotóxicos e fertilizantes químicos e que chegam a custar cerca de 30% a mais que os produtos da agricultura convencional.
Um exemplo disso é o Pnae (Programa Nacional de Alimentação Escolar) que prioriza a compra de alimentos orgânicos para compor a merenda escolar e paga esses 30% a mais ao agricultor, afirma a coordenadora do CI Orgânicos. Ainda segundo Sylvia, tomate, ovo e alface são alimentos com culturas orgânicas mais desenvolvidas e que tem preços que, em alguns lugares, já competem com o valor dos convencionais.
De olho nessa tendência de mercado onde o consumidor tem se mostrado disposto a pagar mais por um produto diferenciado, a Nestlé decidiu investir na produção de leite orgânico (saiba mais aqui). “Temos um produtor que já é totalmente orgânico e estamos convertendo outros 26”, contou Taissara Martins, gerente da área de Qualidade de Leite Fresco e Desenvolvimento de Fornecedores da Nestlé. A empresa conta, atualmente, com mais de 4.000 fornecedores de leite.
O Brasil é o primeiro país no qual a multinacional resolveu investir em leite orgânico. “É preciso deixar a vaca solta no pasto, tratá-la com homeopatia, alimentá-la com ração cultivada sem agrotóxicos”, explicou Taissara Martins.
Emerson Giacomelli falou sobre a importância de se garantir renda ao produtor orgânico. “Não adianta a pessoa ter princípios, amor à causa, se ela não consegue pagar as contas”, afirmou.
Fonte: Folha de São Paulo
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