Rede comunitária para acesso ao mercado pelos produtores orgânicos

Conheça três fazendas de orgânicos que vendem produtos para a capital

28 de setembro de 2015

                                                        cenoura

Às 8h de um sábado, patos e galinhas dividem o espaço com famílias e naturebas em frente ao galpão onde é realizada a feira de orgânicos do parque da Água Branca (zona oeste).

Lá, enquanto faz malabarismos para manter o filho Thomas, de um ano e nove meses, em um triciclo, a publicitária Nayhara Liz de Oliveira, 31, conta que começou a procurar orgânicos após o nascimento do garoto. “A minha mãe já comprava, mas, depois que ele nasceu, eu comecei a procurar mais. Estou tentando melhorar a nossa alimentação.”

No mesmo local, a turismóloga eslovaca Denisa Bandurova, 29, explica que frequenta o espaço há três meses. Ela se mudou para São Paulo recentemente e teve problemas de adaptação alimentar. Ficava doente com frequência e, preocupada com o abuso de agrotóxicos no país, – “o Brasil é campeão”-, começou a se interessar pela alimentação saudável. Assim chegou à feira. Melhorou. “Mas não sei se tem a ver”, adverte aos risos.

Não utilizar agrotóxicos, adubos químicos ou substâncias sintéticas que agridam ao meio ambiente é a principal característica da produção orgânica, de acordo com o Ministério da Agricultura. E é também a mais lembrada pelos consumidores que buscam produtos que estampam o selo federal do SisOrg (Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica).

No entanto, segundo a pasta, para ser considerado orgânico, o processo produtivo também deve contemplar o uso responsável do solo, da água, do ar e dos demais recursos naturais, respeitando ainda as relações sociais, culturais e trabalhistas.

Segundo a Coordenação de Agroecologia Nacional, da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo, há 11.313 produtores de orgânicos no Brasil. Em São Paulo estão 1.296, A São Paulo visitou três deles, localizados a uma distância de até 200km da capital paulista pra mostrar, enfim, de onde vêm essas verduras, frutas, legumes e até iogurtes que vão parar na geladeira dos paulistanos.

FÁBRICA DE SUCOS

Em Itirapina (a 212 km da capital), a Fazenda da Toca produz ovos, laticínios e sucos orgânicos. A propriedade de 2.300 hectares é administrada pelo ex-piloto de F-1 Pedro Paulo Diniz, 45, um dos seis filhos do empresário Abilio Diniz – ex – dono da rede arejista Pão de Açúcar.

Antiga figura fácil das colunas sociais, Pedro Paulo afirma ter mudado definitivamente de estilo de vida com a chegada do primeiro filho, em 2006. Deixar um mundo sustentável de herança inspirou o ex-piloto a procurar novas formas de negócio. A pequisa o levou à agricultura orgânica.

A partir de 2009, a Toca, originalmente dedicada à produção convencional de larajnas, iniciou o processo de conversão. A transição para o sistema orgânico levou três anos. O período estabelecido por lei varia de acordo com o tipo de cultura (perene ou anual) e corresponde ao tempo transcorrido desde a datta da última aplicação de insumos sintéticos até o cultivo ser reconhecido como orgânico. É um período de limpeza.

O próximo passo foi a criação de uma agroindústria. Na Toca há uma fábrica de sucos, outra de laticínios e uma de embalagem de ovos. ” Optamos por isso por duas razões: para agregar mais valor aos produtos e por acreditar que, controlando toda a cadeia, teríamos mais qualidade”, esclarece o empresário.

No início, ele diz ter enfrentado resistência. “Quando começamos a falar de reflorestar, diziam que isso era bom somente para a agricultura familiar. Mas estamos mostrando que faz sentido, sim, e que vai trazer um retorno financeiro.” A expectativa é que, em 2015, a fazenda registre o seu primeiro lucro, com um faturamento de R$ 26 milhões.

Desde 2011, a Toca passa pelo processo de implementação de um sistema agroflorestal. O formato é baseado na inteligência de uma mata nativa. Cada planta contribui com diferentes funções, deixando o sistema mais eficiente. Os cítricos, por exemplo, são plantados com bananeiras, porque essas são ricas em potássio. O resultado é muita matéria orgânica, um solo vivo e rico em nutrientes e um ambiente produtivo e equilibrado.

PLANTAS ESQUECIDAS

A Santa Adelaide Orgânicos, em Morungaba (a 107 km da capital), trabalha com cerca de 60 tipos de legumes, frutas e verduras, incluindo seu diferencial, as plantas “esquecidas”- caso da cenoura roxa e da beterraba amarela. Deixadas de lado pelo mercado, não foram plantadas por muito tempo.

Na fazenda, ganham espaço por serem ricas em histórias e tradição culinária. “As pessoas acham que, ao seguir as estações [de colheita], o cardápio ficará mais restrito. Mas trabalhando com essas plantas esquecidas, você vai colher uma cenoura, mas percebe que pode ter cinco ou seis tipos de cenoura e até com cores diferentes”, diz o proprietário, David Ralitera.

Já para evitar bichinhos que gostam de ficar nas flores e podem acabar dentro dos frutos no processo final, ele usa calda de cebola, alho e pimenta do reino. Funciona como repelente. Outro recurso é a utilização de plantas amigas. Em volta do tomate, por exemplo, há manjericão e outros temperos com odor forte, não atraente para animais.

O francês, que já mora no Brasil há sete anos, se dedica à fazenda há seis. No início, no entanto, colocar as mãos na terra era um respiro para sua rotina como diretor de mídia na JWT. Em 2012, deixou a posição na agência de publicidade e começou a se dedicar integralmente à fazenda.

No começo, entregava 20 cestas com os produtos para amigos e atendia um restaurante. Hoje, trabalhando com 15 hectares certificados, envia 150 cestas por semana (a partir de R$ 54) e fornece alimentos in natura para 40 restaurantes.

David destaca a importância de respeitar as condições climáticas de cada região e sazonalidade dos produtos. “A gente interfere muito na horta porque quer plantas coisas que não têm nada a ver com o clima, o bioma e com a história da terra”, explica. “O sul do país está acostumado a ter todo o tempo no mercado. É um erro gigante.” Ele lembra que comprar produtos da estação também é mais barato, já que, ao interferir menos no plantio, o custo de produção fica menor.

AULA DE NATUREZA

Para Caio Feres, 30, um dos idealizadores do Sítio Escola Portão Grande, em Várzea Paulista ( a 54 km de São Paulo), o consumidor de orgânicos está mais receptivo à sazonalidade dos produtos.

“Claro que ele tem suas preferências, mas, quando vai à feira, sabe que não está no Pão de Açúcar”, afirma o coordenador de plantios. O sítio produz frutas e hortaliças- destaque para o inhame e para a banana.

Hoje uma associação sem fins lucrativos, a propriedade foi de Jorge Feres, avô de Caio e pai de Antônio Feres, 59, presidente do conselho diretor do sítio. Quando Jorge envelheceu, quis vender as terras em que cultivou hortaliças e frutas com manejo convencional durante 50 anos.

Antônio o convenceu de que deveriam dar alguma finalidade ao terreno, mas não havia projeto. Até que Jorge morreu, em 2011. Foi quando a família decidiu criar uma organização pra promover ações educativas por meio da “agropedagogia”.

“A ideia é formar o pessoal mais jovem com conceitos de sustentabilidade, preservação e qualidade nutricional, em contraponto às drogas e ao banditismo”, explica Antônio.

Por enquanto, o Portão Grande ainda não conseguiu estruturar programas fixos, mas promove “day camps” para profissionais da educação, restaurantes e escolas.

 

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