Rede comunitária para acesso ao mercado pelos produtores orgânicos

Em São Paulo, supermercados e lojas investem na oferta de produtos orgânicos

16 de agosto de 2017

O número de pessoas interessadas em trocar os produtos tradicionais por opções orgânicas tem crescido a cada dia. Diante dessa nova realidade do consumo alimentício, destacamos na cidade de São Paulo dois empreendimentos que visam ofertar apenas produtos orgânicos.

Solli, o primeiro supermercado 100% orgânico

Foto: Eliane Contreras/BOA FORMA
Foto: Eliane Contreras/BOA FORMA

O supermercado, localizado em São Paulo, é o primeiro do país a ofertar apenas produtos orgânicos em suas prateleiras, além de organizar bate-papos sobre consumo consciente. Lá é possível encontrar desde gengibre até produtos de limpeza, todos produzidos de forma sustentável e sem a utilização de defensivos químicos e agrotóxicos.

Ao todo, são quase 2500 produtos com certificação orgânica, que incluem vinho, carne e até ração para animais de estimação.

O projeto foi idealizado pelos irmãos Thiago (publicitário) e Rodrigo Faydin (administrador). Os irmãos de 26 e 28 anos, respectivamente, visitaram agricultores em um limite de distância de 500 km da loja, localizada em Pinheiros, antes da inauguração, no começo desde ano.

Segundo Thiago, apesar de os orgânicos serem mais caros que os produtos convencionais, os preços oferecidos pelo Solli são um pouco mais baixos do que os dos supermercados tradicionais. E essa diferença chega a 70% no nicho reservado para verduras, frutas e legumes “imperfeitos”, mas igualmente nutritivos. “No mês passado, foram vendidos 60 kg só de frutas, legumes e verduras dessa prateleira”, conta Thiago.

No supermercado há um mezanino onde acontece, uma vez por mês, o Solli Papos, encontro de profissionais (sempre um produtor, um nutricionista e um chef de cozinha) e clientes para a troca de informações sobre consumo consciente. “Muita gente ainda confunde a alimentação orgânica com veganismo, por exemplo. Por isso nosso objetivo é fazer do Solli também um espaço transformador, orientar e informar as pessoas o que são os orgânicos e porque consumi-los. Acredito ser um caminho de uma mão só: uma vez que elas optam por eles, dificilmente voltam atrás”, finaliza Thiago.

Além do Solli Papos, os irmãos estão investindo em um outro projeto: o Solli Expedições. A primeira expedição realizada pelo supermercado levará as pessoas interessadas a uma visita à fazenda Santa Adelaide Orgânicos, localizada a uma hora e meia de São Paulo, na cidade de Morungaba, para o evento Farm To Table SP, no dia 2 de setembro (sábado). O evento começará às 14 horas com a prática de yoga seguida de uma visita guiada pela fazenda e colheita até o pôr do sol. No final, será oferecido um jantar preparado pelo chef Du Cabral, com fogueira e vinho orgânico.

Solli Orgânicos

Endereço: Av. Pedroso de Morais, 816. Pinheiros – São Paulo

Horários: 2ª a 6ª: 9h às 20h / Sáb: 9h às 16h / Dom: 10h às 16h

Orgânicos 35%, oferta de orgânicos a preço justo

A loja Orgânicos 35%, localizada na Vila Buarque, região central de São Paulo, nasceu de um projeto idealizado pelo sociólogo Rafi Boudjikian e pela antropóloga Beth Quintino. A ideia segue os preceitos do comércio justo e tem os mandamentos desse conceito gravados na parede. Sendo o principal deles, o preço justo. Daí o nome da loja, onde a margem é de 35%. Um pé de alface orgânico custa em média R$ 5,99 nos supermercados de São Paulo. Nas feiras especializadas, esse valor cai para R$ 5,75, mas na Orgânicos 35% é possível encontrar o mesmo item por R$ 2,98, cerca da metade do preço.

“Criamos um modelo espartano, com quadro de funcionário e horário de funcionamento reduzidos, para conseguir manter a margem nesse patamar, bem abaixo do praticado pelos supermercados, por exemplo”, afirma Boudjikian.

O empreendedor já tem 15 anos de experiência no mercado de orgânicos, através de outro negócio: o Site de Orgânicos, que faz delivery de alimentos. Há dez anos, Boudjikian manteve a vontade de ter uma loja física e agora o projeto enfim saiu do papel.

“Percebemos que o mercado estava pedindo mais opções para comprar orgânicos com um bom preço”, avalia Quintino, sua sócia.

Preço justo e transparência

Mas isso quer dizer que o alimento orgânico não precisa ser tão caro? Na visão dos empreendedores, não. “Os supermercados entendem que o orgânico é um produto premium e aumentam sua margem de lucro em cima dele”, diz Boudjikian.

A proposta da Orgânicos 35% é exatamente oposta. “É uma visão de vida, que vem da nossa formação acadêmica e está ligada à solidariedade e à parceria, tanto com o produtor quanto com o cliente”, afirma Quintino.

Mas, a loja não é uma ONG e visa, sim, o lucro. Os empreendedores investiram cerca de 100 mil reais para montar o negócio. No primeiro mês de funcionamento, venderam um total de 40 mil reais em produtos, número que tem aumentado em cerca de 20% a cada mês. A expectativa é que a partir do sexto mês os sócios já consigam extrair um pró-labore “razoável” para si próprios.

Para conseguir se manter com uma margem apertada como esta, a loja funciona apenas das 8h30 às 14h e tem somente dois funcionários, além dos próprios sócios. Outro ponto é o cuidado na hora de comprar com os fornecedores. Outra estratégia é optar por não ter alguns itens na loja. “Se compro almeirão e percebo que sempre sobra, opto por não ter”.

Outro pilar do comércio justo seguido pelos sócios é a transparência. Nas gôndolas, é possível ver quem foi o produtor que forneceu aquele item. Há ainda uma tabela de comparação de preços no meio da loja, mostrando quanto custam alguns itens na Orgânicos 35%, no Site de Orgânicos (que é dos mesmos donos, mas tem preços mais altos), nas feririnhas de orgânicos da cidade ou no supermercado.

O modelo tem dado certo. “O número de pessoas que nos procura está crescendo, e o ticket [quanto cada comprador gasta] também. Nosso público é composto principalmente por pessoas que vivem na região, mas temos cerca de 20% que vêm de longe para cá. Gente que vem toda semana do Carrão, de São Bernardo. Isso é muito legal”, conta Boudjikian.

“Com isso vemos como a cidade ainda está carente de lugares que vendam orgânicos com um preço justo”, completa Quintino. O marco deste movimento, segundo os empreendedores foi o surgimento do Instituto Chão, na Vila Madalena, que funciona sem margem de lucro e pede doações de seus clientes para manter o espaço.

Uma surpresa positiva para os empreendedores é ver que os clientes mais idosos têm procurado bastante o espaço. “O público jovem é mais aberto para essas novidades, os mais velhos já têm alguns hábitos. Mas temos visto muitas senhoras por aqui. E ouvimos frases do tipo: ‘melhor comer comida saudável do que gastar em remédios’, o que nos deixa felizes”, comemora Boudjikian.

Com o sucesso dos primeiros meses da loja – mesmo num momento de crise econômica – os empreendedores já consideram abrir outras unidades. A intenção é a que a próxima loja seja maior, com mais espaço para exposição de produtos e armazenamento. Uma coisa, porém, continuará a mesma: margem de lucro de 35%.

Orgânicos 35%

Endereço: Rua Marquês de Itu, 456 – Vila Buarque/Higienópolis – São Paulo

Horário: Segunda a sábado 8:30h às 14:00h

Fontes: Boa Forma e Exame

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