Grãos orgânicos: cresce o mercado de soja e milho orgânicos
A produção de milho e soja orgânicos deve-se ao interesse dos consumidores em consumir mais proteínas orgânicas (ovos, frangos, carnes e leite). Para produzir ovos, frango, carnes e leite orgânicos, os animais devem ser alimentados somente com produtos que possuem certificação orgânica. Eles ainda podem, de acordo com a legislação brasileira de orgânicos, receber vitaminas, suplementos minerais e vacinas. Produção Animal Orgânica.
Grãos, como milho e soja, são os principais componentes das rações para os rebanhos de pecuária de corte e leiteira, suínos, aves poedeiras (criadas para botar ovos) e de corte (que fornecem carne).
A Folio, rede de produtores de grãos orgânicos estima que a safra 2021/2022 chegue a 58 mil toneladas (32 mil toneladas de milho e 26 mil toneladas de soja). Não há dados sobre a produção de outros anos, mas a tendência é de alta, dizem especialistas.
Em 2022, em parceria com a consultoria americana Mercaris, a Folio, que deseja estimular a produção de grãos a partir da agricultura familiar, vai monitorar o setor de grãos orgânicos no Brasil com dados de mercado e produção. O primeiro relatório deve sair em abril.
“O objetivo é abastecer o mercado com informações econômicas para ampliarmos a produção de soja e milho orgânicos no Brasil”, disse Luis Barbieri, um dos idealizadores da Folio e cofundador da Raiar, empresa que produz ovos orgânicos em Avaré (SP).
No Brasil, os grãos orgânicos são produzidos, em sua maioria, por pequenos e médios produtores rurais (5.000, segundo a Embrapa) que encontraram boas oportunidades de rentabilidade na atividade, já que o custo de produção, comparado ao modelo convencional, pode ser até 50% menor, e o preço final, 20% maior.
Incrementa-se a procura por ovos e frangos orgânicos
Uma pesquisa realizada pela Organis apontou que, entre os consumidores de orgânicos, os itens mais comprados em 2021 foram os do grupo LFV (legumes, frutas e verduras), mas o ovo orgânico apareceu neste ano como o segundo item mais procurado pelo público.
“A demanda por ovos, carnes e leite orgânicos está aumentando e, para que a agroindústria possa atender a essa necessidade, vai ser preciso plantar muito milho e soja orgânicos”, disse Cobi Cruz, Diretor da Organics.
Em Avaré (SP), na Raiar Orgânicos, Luis Barbieri e os dois sócios criam 40 mil galinhas poedeiras. Para alimentá-las, compram milho e soja orgânicos de 70 produtores (a maioria de assentamentos) instalados em propriedades localizadas em um raio de 200 km da fazenda.
Mas, para atender a demanda que pretendem ter, de 200 mil galinhas no final de 2022, e 700 mil em cinco anos, eles precisarão comprar muito mais grãos.
“O negócio atende ao tripé bem-estar animal, meio ambiente e fomento aos agricultores familiares”, afirmou Barbieri.
Orgânico e Tecnologico
A tecnologia na produção orgânica é bem diferente do pacote tecnológico da agricultura convencional, que aposta no maior uso de fertilizantes e defensivos para produzir alimentos.
O sistema orgânico envolve pesquisas e estudos acerca do DNA dos solos e da biota, a harmonia da vida no solo, com bactérias, fungos e outros microrganismos.
“A agricultura orgânica é o ápice da tecnologia. Nunca havíamos estudado o DNA do solo de forma tão profunda para entender seu comportamento e necessidades em cada período do ano e áreas diferentes”, afirmou Luis Barbieri, da Folio.
Ele diz que a tecnologia é a chave para o avanço do setor no país. “A virada [da agricultura convencional para a orgânica em larga escala] está a um passo de acontecer, mas, se não focarmos em alguns pontos, o setor não vai deslanchar”, afirmou.
Segundo Barbieri, tecnologia, conhecimento e assistência rural (que inclui gestão) são os pontos principais para o setor crescer. “O agricultor é um cientista.”
“O setor de alimentos orgânicos, nos EUA, Europa e Ásia, cresceu durante a pandemia, e o Brasil, que entra em tendências de consumo depois, desta vez, acompanhou o movimento”, disse Cobi Cruz, da Organis.
Financiamento da Produção Orgânica
Para aumentar o número de fornecedores de grãos orgânicos, a Raiar está financiando os pequenos produtores que querem entrar no negócio. Em outubro, concluiu a captação de R$ 1,36 milhão, por meio de tokens de CPR (Cédula de Produto Rural) para investir nos agricultores.
Quem entra no esquema, recebe assistência tecnológica e rural para produzir os grãos e gerir a propriedade e orientação para obter as certificações orgânicas. “O número de produtores interessados em aderir à produção orgânica de grãos está aumentando também”, disse Barbieri.
Os produtores, segundo o empresário, começam na atividade em uma pequena área do sítio e, aos poucos, vão aumentando a produção, conforme veem que o negócio está dando mais lucro. A Raiar, que tem fábrica de ração orgânica, compra tudo e paga prêmios.
Quando você fornece as informações e os caminhos, o agricultor segue. Com o tempo, ele vai percebendo que o custo de produção dele está diminuindo, a rentabilidade aumentando, ele está construindo um mundo mais saudável, e isso é um fator multiplicador.
Luis Barbieri, um dos idealizadores da Folio e cofundador da Raiar
No mercado, uma saca de soja transgênica, de 60 quilos, custa em média R$ 150. A saca do grão convencional, em torno de R$ 170, e a saca da soja orgânica, R$ 220.
Com o milho, não é diferente. Para um saco de 60 quilos de milho convencional, o preço em média no país é de R$ 88, enquanto o produto orgânico chega a custar R$ 105.
Os preços são referentes à penúltima semana de dezembro.
Banco de Sementes
Em novembro, a Folio, que é uma parceria da Raiar com a empresa de tecnologia Gaivota, recebeu US$ 40 mil do programa de inovação social do Massachussetts Institute of Technology (MIT) por um projeto inovador, um banco de sementes, que servirá como base para expandir a agricultura orgânica.
Cinco agricultores fazem parte do projeto. Cada um recebeu 100 quilos de sementes, que serão semeadas em dez hectares e, ao final da safra, para cada semente recebida, eles devolverão três para a empresa, permitindo aumentar a escala para pelo menos 40 produtores na safra de inverno de 2022.
As sementes são usadas para fazer a adubação verde, um manejo em que o agricultor aduba o solo usando plantas, e não produtos químicos. As plantas corretas oferecem nitrogênio, potássio, fósforo e outros elementos necessários para a produção.
“A adubação química solubilizou o mineral. Pegou o potássio e o fósforo da rocha e fez um sonrisal de adubo. Agora, a gente quer solubilizar o conhecimento sobre adubação verde e difundir para gerar mais conhecimento”, disse Barbieri.
Com a inclusão de mais produtores, será possível gerar dados sobre as espécies mais indicadas para cada cultura ou região do país.
fonte: UOL Economia, CI Orgânicos