Rede comunitária para acesso ao mercado pelos produtores orgânicos

Logística de hortaliças continua complicada no Brasil

21 de janeiro de 2011

Os problemas enfrentados para abastecer os mercados no Rio de Janeiro deixam claras as dificuldades para a produção de hortaliças no Brasil. São produtos frágeis, que às vezes são danificados pelas tempestades, mas que perdem qualidade o ano inteiro devido ao transporte mal feito. Produtores também reclamam das oscilações de preços, que trazem risco para a rentabilidade.

A equipe do projeto Canal Rural Na Estrada percorreu o Brasil, de sul a norte, para fazer um retrato da logística das hortaliças.

Na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), o maior entreposto da América Latina, todos os dias são negociadas 10 mil toneladas de alimentos. Lá, José Luiz Batista, um dos maiores distribuidores, com a experiência de quem está no ramo há mais de duas décadas, conta que o transporte e o manuseio são um dos maiores custos das hortaliças que chegam à mesa do consumidor.

– O produto, depois de colhido, não melhora. Você só pode conservar ele. Ele só piora. O nosso transporte, para a hortifruticultura, ainda precisa melhorar bastante. Em carrocerias abertas, por mais que você higienize o produto, por mais que você prepare o produto, caminhões com carroceria aberta prejudicam bastante o transporte. Hoje o ideal seria tudo em caminhões baú térmicos – diz Batista

Alguns produtos podem ter o custo de manuseio, transporte, e distribuição maior do que o custo de produção. É o caso de itens leves, que ocupam bastante espaço, como a berinjela e o pimentão. Na Ceagesp, o preço da caixa pode ser de 30 centavos por quilo.

Especialidade do Batista, o tomate é um dos produtos preferidos na mesa do brasileiro. Uma das áreas que fornecem tomate é o município de Linhares, no Espírito Santo. Lá, a família de Denisson Patrício produz a cultura há 40 anos. E poucas vezes se viu um desânimo tão grande.

– Estamos pensando em nem plantar mais tomate. O custo é alto, dependemos de muita mão de obra e hoje está muito difícil pra trabalhar. Agricultores estão vindo de outras culturas: café, milho, e estão vindo para plantar tomate. Quem plantava 50 mil tá plantando 200. E quem nunca plantou, tá plantando 100 mil. A quantidade é muita – explica Patrício.

Depois da colheita, é preciso calcular custos como o transporte e as embalagens. A conta feita pelo Denisson é simples: O custo de produção é de R$ 8. O transporte fica em R$ 2, e a caixa de madeira é comprada por mais R$ 2. No total, o produtor gasta R$ 12 reais para produzir e transportar. Mas sabe por quanto eles estão conseguindo vender? Por R$ 10 reais! Prejuízo de R$ 2 reais por caixa.

Assim como os produtores de tomate do Espírito Santo, o produtor Jorge Kanomata, de Biritiba Mirim, interior de São Paulo, também procura alternativas para manter a rentabilidade da plantação de hortaliças. Ele vende direto para empresas e feirantes. Tem movimento de caminhão a manhã inteira. Ao todo, são mais de 40 compradores diferentes. É preciso organizar uma grande tabela para saber que produto vai ser buscado em cada dia da semana.

– Que diferença tem vender direto para o supermercado ou para entrepostos como Ceasa e Ceagesp? Uma grande diferença é o custo de comercialização. Cai bastante se ele conseguir eliminar intermediários, ele consegue uma renda melhor – explica Kanomata.

Jorge calcula que, no passado, 90% de suas vendas eram feitas através da Ceagesp. Hoje esse volume caiu para 10%.
– Quanto menos intermediários, melhor, né? Sim, isso é o ideal. O produtor vai ser melhor remunerado por seu produto – afirma.

Em Salesópolis, também em São Paulo, encontramos produtores que apostam em embalagens especiais para as hortaliças. Assim, evitam as perdas com o transporte. Uma boa parte das alfaces ainda vai para os compradores do jeito tradicional, inteiras. Mas está crescendo a procura pelo produto cortado e lavado, pronto para o consumo.
– Vantagem é pro consumidor. Cada dia o consumidor tem menos tempo de preparar a comida esse produto é pra abrir e ter praticidade – diz o empresário Jony Takagaki, que acredita que essa seja a tendência do mercado.

Paulo César Tavares de Melo, presidente da Associação Brasileira de Horticultura, confirma que o transporte é um dos maiores problemas da produção de hortaliças no Brasil. Para ele, as perdas entre a lavoura e a mesa do consumidor são enormes.

– Eu diria que, hoje, numa avaliação bem otimista são 30% depois que o produto sai da porteira.

fonte: Canal Rural e  Anapa

Boletim de notícias

Cadastre-se e receba novidades.