“Não adianta ter propósito, se as contas não fecham”

“Para ser caso de sucesso, a empresa precisa ser bem estruturada e o negócio precisa dar dinheiro”, afirmou o empresário Pedro Paulo Diniz, fundador e CEO da Fazenda da Toca, especializada em alimentos orgânicos. Durante o CEO Summit, realizado em São Paulo, Diniz e o chef Alex Atala, do restaurante D.O.M., discutiram as possibilidades de negócios em um mercado que, para muitos, ainda é de nicho: o de alimentação orgânica e de valorização dos produtos locais. Ao ser questionado se o D.O.M. é um empreendimento ou uma ideia, o chef foi claro: “é um empreendimento. Acredito que as coisas precisam ser tão legais que podem até dar dinheiro”. “Não adianta ter propósito, se as contas não fecham”, resumiu Diniz.
Nesta terça-feira (17/10), os dois ressaltaram que empreendimentos precisam ser sustentáveis financeiramente, e não podem se apoiar apenas na ideologia de criar um negócio com propósito ambiental. “Tem empresa que implementa sustentabilidade como quem vai no dentista — com dor e sentimento de culpa”, disse Atala.
Investir em orgânicos
Diniz conta que, quando começou nesta área, entre 2009 e 2010, percebeu que a agricultura tradicional “não fazia sentido”. “Por não entender nada de agricultura, eu me permitia fazer perguntas idiotas. E os argumentos da agricultura tradicional não respondiam, não dá para explicar por que a agricultura hoje esteriliza tudo e, quando algum ser se adapta àquilo tudo, vira uma grande praga”, disse. Ele afirmou, ainda, que a agricultura orgânica tem vantagens sobre a tradicional, no longo prazo, quanto a custos e produtividade. “Desde o começo, acredito que a agricultura orgânica pode alimentar o mundo.”
Alex Atala concordou que a tendência hoje é de que cada vez mais consumidores optem pelos orgânicos. “Se hoje compramos roupas melhores, shampoos melhores, por que não comermos melhor?”, questionou. Para ele, é preciso também mudar a relação das pessoas com o alimento. “Atualmente, o papel do chef é, principalmente, de assumir o protagonismo de ressignificar o ato de alimentar. A desconexão do homem com o alimento hoje é gigante.”
Enxergar as oportunidades é fundamental
Segundo Pedro Paulo Diniz, a agricultura orgânica no Brasil abre uma grande oportunidade de negócios. “O Brasil tem o maior potencial agrícola do mundo. Hoje, nem 1% da produção brasileira é orgânica. Na Austrália, 17% da produção é de orgânicos. Na Dinamarca, em 10 anos, 100% do país vai produzir só orgânico”, contou. “Vejo grande potencial de negócio explorar essa capacidade de o Brasil se tornar o maior celeiro de orgânicos do mundo.”
Focar as atenções vale a pena
“O exercício de focar, para mim é um desafio. Decidi me mudar para a fazenda, hoje vivo no meu trabalho, é muito intenso”, conta Diniz. Além de focar suas próprias atenções no negócio, ele conta que foi necessário, concentrar os negócios. “Chegou uma hora em que a gente viu que não estava dando conta, e foi difícil fazer escolhas. A tendência do empreendedor é fazer tudo.” Durante a palestra, ele contou que, no ano passado, a Fazenda da Toca teve de fazer uma decisão difícil: desligar as operações de produção de leite, que estavam em funcionamento desde o início da empresa. “Hoje, depois de implementar essa escolha, o negócio está muito mais saudável”, diz ele.
“A guerra não compensa”
Atala ressaltou que a discussão entre orgânicos e a grande indústria de alimentos do mundo precisa sair da briga entre “bom e mau”. “Não adianta falar do orgânico contra a indústria de alimentos. Precisamos sentar na mesma mesa e ressignificar os papeis, pensar nas possibilidades e caminhos”, afirmou.
Pedro Paulo Diniz acrescentou: “essa guerra é uma grande perda de energia. É importante construir sobre aquilo que estamos fazendo”. Segundo ele, é possível usar as práticas da agricultura orgânica, replicá-las e ampliá-las, com ganhos de escala, usando tecnologia.
Leia a noticia completa, fonte: Epoca Negócios
18.10.2016