Orgânicos crescem no varejo
Com o olho voltado para o Nordeste, onde o mercado ainda é restrito, em função dos altos preços, das restrições nas gôndolas e da falta de informação, as maiores redes varejistas estão querendo estimular o fornecimento e consumo de produtos orgânicos.
O Grupo Pão de Açúcar, por exemplo, estima que, dentro de dois meses, as unidades recifenses contarão com uma linha completa de mercearia orgânica – com 270 itens, número compatível com a oferta de muitas lojas do Sudeste –, além de carnes e mais opções de hortifruti, que localmente somam cerca de 50 itens.
“Um dos nossos grandes desafios é captar fornecedores. Queremos atrair esse pessoal e torná-lo parceiro, atuando também como ponte entre eles e os certificadores. Algumas das dificuldades estão na localização, formação e capacitação técnica desses plantadores”, comenta a gerente comercial de orgânicos do Pão de Açúcar, Sandra Caires. Os orgânicos que chegam às lojas da rede na Região Metropolitana do Recife vêm principalmente de Glória do Goitá (interior do Estado) e da Paraíba.
O fato é que produzir sem agrotóxicos é muito caro no Brasil (o custo pode chegar a ser maior que 40% maior), o que eleva o preço nas gôndolas. Para se ter ideia, na Europa e nos Estados Unidos, a diferença de valores entre orgânicos e convencionais chega a, no máximo, 20%. Sandra acredita que a tendência é de diminuição da disparidade e cita preços já competitivos de itens como azeite, palmito, molho de tomate, alface, entre outros.
“Aproximadamente 95% dos brasileiros nem sabem o que é um produto orgânico. No mundo, o setor movimenta perto de US$ 52 bilhões por ano. No Brasil, esse número atinge apenas US$ 560 milhões, dos quais 60% vão para o exterior”, calcula Sandra. Segundo ela, o Pão de Açúcar absorve aproximadamente 45% da produção que fica no Brasil.
“Também é preciso observar que o mundo nunca irá conseguir substituir totalmente o convencional, pelo orgânico, mas pode-se chegar a patamares mais sustentáveis, como na Alemanha, maior consumidor mundial de orgânicos, onde cerca de 30% da alimentação vem de produtos sem adição de químicos”, observa. “Na Europa, o governo já faz, há anos, campanhas de incentivo, inclusive com isenção de impostos. Aqui tudo é muito feito na base da tentativa e do erro. A parte técnica faz muita falta”.
A fazenda biodinâmica Tamanduá, da Paraíba, fez sua primeira entrega de legumes e folhagens ao Pão de Açúcar no Nordeste. Com mais de 30 anos de atuação, os empresários investem alto na área técnica, além de captarem e capacitarem famílias inteiras de agricultores da região. Tamandua fornece manga, arroz, mel, queijos, goiaba, romã, carnes, entre outros itens. Tudo 100% orgânico.
O Clube do Produtor, do varejista Walmart, completa 10 anos, já deu apoio técnico e orientação a 9 mil famílias de agricultores brasileiros. Está presente em 161 municípios do Nordeste. Em Pernambuco, participam locais como Petrolina e São Vicente Férrer.
“O orgânico ainda está na mão do pequeno produtor, da agricultura familiar. São pessoas que têm dificuldade em se tornar fornecedoras. Falta informação, documentos em dia para participar de programas de incentivo, terra legalizada”, comenta Alain Benvenuti, vice-presidente comercial de perecíveis da empresa.
Para incentivar a produção e facilitar o acesso, o Clube do Produtor sela contratos mais simplificados com os pequenos agricultores, com o objetivo, inclusive, de diminuir a atuação de atravessadores.
“Há 10 anos, o custo chegava a ser três vezes maior que atualmente. Hoje fica em torno de 50%, o que aumenta a tendência de queda nos preços ao consumidor final”, aponta Benvenuti. Hoje o Walmart conta com mais de 100 itens orgânicos, sendo 80% folhagem.
Fonte: JC on line