Orgânicos invadem terra do fast-food
O projeto Growing Power ajudou a criar 50 novos empregos, produz alimentos saudáveis e integra a comunidade/ Fotos: Growing Power Ao observar um grande quintal ocioso e a falta de opções para produtos orgânicos em seu bairro, o norte-americano Will Allen, ex-jogador de basquete, de 62 anos, criou em seu terreno uma horta que produz 450 toneladas de alimentos por ano. No Brasil, 14 toneladas por hectare já são consideradas um excelente rendimento.
A horta de um hectare foi criada em um bairro popular de Milwaukee (Wisconsin), conhecido pelas diversas opções de alimentos estilo fast-food. Allen apostou na agricultura orgânica e ajudou a gerar 50 novos empregos no estado americano de Wisconsin. A iniciativa fortaleceu os vínculos da comunidade local e aumentou a qualidade de vida de seus vizinhos, uma vez a que comercialização de produtos mais saudáveis não era comum no lugar.
Todo o terreno é utilizado para o projeto intitulado Growing Power. Uma parte vai para o plantio das 20 mil plantas e vegetais, cultivadas em seis estufas convencionais e outras de hidroponia (plantio com água). Além dos alimentos vegetais, há milhares de peixes, além de galinhas, cabras, patos, coelhos e abelhas. O ex-jogador utiliza ainda energia solar nas estufas: são 300 placas fotovoltaicas para manter os tanques de águas pluviais.
“Todo mundo, independentemente da sua classe econômica, deve ter acesso à alimentação saudável, acessível, que é cultivada naturalmente”, diz Will Allen, líder do Growing Power
Já se sabe que aproximar o produtor de alimentos do consumidor é uma das saídas para reduzir o desperdício, baratear os custos e reduzir a quantidade de agrotóxicos durante o plantio. Por esses fatores, o idealizador do projeto foi incluído na lista de 100 cidadãos mais influentes do planeta pela revista Time, em 2010, e ganhou o Genius Grant, prêmio de meio milhão de dólares concedido pela MacArthur Foundation a pesquisadores que se destacam por seu potencial inovador.
Para a publicação norte-americana, Allen declarou: “Todo mundo, independentemente da sua classe econômica, deve ter acesso à alimentação saudável, acessível, que é cultivada naturalmente”.
De Wisconsin para Nova York
Os Estados Unidos são a meca do fast-food, certo? Depende. Essa afirmação pode valer para boa parte do país, mas não serve para Nova York. É claro que a cidade também tem muito hambúrguer e batata frita, mas a moda, agora, é a comida natural e saudável. Mais ainda: feita com ingredientes orgânicos, ou seja, sem agrotóxicos e cultivados de acordo com normas de respeito ao meio ambiente. Nova York sempre teve uma “veia” orgânica, é verdade. A tradicional feira de orgânicos da Union Square às segundas, quartas, sextas e sábados, a Union Square Greenmarket, por exemplo, existe desde 1976. Mas isso era uma tendência isolada, restrita ao povo mais alternativo de East e West Village. Atualmente, é um fenômeno presente em toda a cidade. Essa moda pegou, mesmo, de cinco anos para cá.
Banca de frutas em Midtown / Foto: Rosana Zakab Banca de frutas no Chelsea / Foto: Rosana Zakabi A transformação no quesito comida é notável. Em 2000, não havia muita escolha: as opções eram barbecue com molhos fortes, hambúrguer, batata frita, cachorro quente. Até dava pra achar algo mais “verde”, mas era preciso procurar muito. Em 2005, já havia mais restaurantes por quilo servindo legumes e verduras e lojas de conveniência vendendo frutas. A palavra “orgânicos” nas fachadas dos restaurantes e nas embalagens dos alimentos nos supermercados era pouco vista. E hoje, parece que a cidade inteira respira organics. A cada esquina há uma banquinha de frutas e legumes frescos, “sem agrotóxicos”, entre eles tomates, morangos, bananas e maçãs.
Restaurantes em série
Ao descer de Midtown ao Chelsea pela 7a Avenida, é possível contar 14 restaurantes e mercadinhos de comida orgânica (na própria
Saladas do Green Tomato / Foto: Rosana Zakabi avenida e nas transversais). Um deles, o Green Tomato (295 7aAvenida, esquina com a W 27th Street, 212/352-9174), tem um bufê de legumes e verduras fresquíssimos, sanduíches naturais, wraps e saladas deliciosas para levar pra casa ou para o hotel. No Foragers Table (233 8a Avenida, 212/243-8888, foragerscitygrocer.com), que serve pratos como salada de morangos com rabanetes e coentro e frango assado com polenta e cogumelos, os ingredientes vêm semanalmente de fazendas orgânicas do Hudson Valley. Ao lado fica a loja de vinhos orgânicos do restaurante. Lugares badalados, como o Le Pain Quotidien (69th Street, 646/233-3768, lepainquotidien.us), este dentro do Central Park, também exibem menus com itens orgânicos – no caso, cafés, chás, suco de laranja, limonada e leite de soja. E, nas lojas de conveniência, dá para achar embutidos sem conservantes ou aditivos químicos.
Xampu, creme e lavanderia
Além de comida, há vários mercados orgânicos vendendo xampus, condicionadores, cremes para o rosto e para o corpo, aromatizantes de ambientes e buchas para banho. Muitas lojas de roupas, como a Patagonia (426 Columbus Avenue, 800/638-6464, patagonia.com), de moda esportiva, têm peças feitas com algodão orgânico. Em Park Slope, no Brooklyn, há uma lavanderia… orgânica! A Dry Cleaners (Prospect Park West, 718/300-0208), aberta em fevereiro deste ano, exibe na porta uma placa em que está escrito: “lavagem orgânica a seco”. “Utilizamos dióxido de carbono em vez de água na lavagem”, explicou o funcionário Kenneth Wu. “Com isso, não desperdiçamos água e não agredimos o meio ambiente”, disse.
A clientela aumentou
Mesmo as empresas especializadas que já existem há tempos viram seu negócio prosperar nos últimos anos. “De cinco anos para cá, nossa clientela dobrou”, disse James Buckingham, gerente da loja Perelandra (175 Remsen Street, 718/855-6068, perelandranatural.com), no Brooklyn. “Notamos que as pessoas decidiram mudar seu estilo de vida e estão mais preocupadas com a prevenção de problemas de saúde e com a qualidade do ambiente em que vivem”, disse ele. Não posso afirmar que seja bom para a saúde, mas comer salame orgânico, sem aditivos químicos, vindo de fazendas próximas, fez muito bem para a minha mente – que ficou livre do sentimento de culpa.
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