Portugal: Floresta de carvalhos orgânicos é fonte de emprego no país em crise
Durante séculos, as pessoas no sul de Portugal viveram do sobreiro, um tipo de carvalho, cuja casca era colhida a cada nove anos dando origem à cortiça. Acontece que, recentemente, com a utilização de rolhas de plástico no lugar de cortiça natural, o preço do produto vem caindo. Com isso, foi necessário o desenvolvimento de estratégias ecológicas para preservar as valiosas e antigas plantações de sobreiros, explorando-os de forma inovadora. Um exemplo é Alfredo Sendim, que encontrou um novo conceito de fazer exatamente isso. Ele está criando uma junção entre a conservação da natureza e novas ideias de marketing, em sua fazenda orgânica do Freixo do Meio.
“Usamos 10% de bolota da terra em nosso pão”, diz aos 46 anos de idade. Bolota é um fruto do carvalho, típico da região do Alentejo, ao sul de Portugal. É usado para fazer farinhas utilizadas na fabricação de pães e biscoitos, além de servir como ração para a criação animal. O pão, feito de farinha de bolota, é empurrado por um funcionário em um antigo forno à lenha. Toda semana, Sendim vende 35 pães em sua loja própria e em outras lojas de Lisboa, a 100 km de distância. Para produzir essa farinha, ele torra as bolotas, em seguida, remove a camada externa dura, então, o resto é moído. Ele ressalta que “nos velhos tempos as bolotas também foram usadas para o consumo humano”.
Ele herdou a fazenda de 400 hectares de sua mãe, com a intenção de diversificar a produção, complementando o valor obtido da maneira tradicional, por meio dos carvalhos e da cortiça, com outras possibilidades, criando diversidade na agricultura.
Alfredo, a quinta geração a administrar a fazenda, já implementou muitas de suas idéias novas, e outras ainda estão à espera de serem colocadas em prática. A ideia básica da “eco-intensificação” colabora não só para aumentar a fertilidade do solo em uma paisagem caracterizada pela seca ao longo do verão, mas também para criar empregos em um país com uma crônica falta de oportunidades. Como ele não pode assumir o risco em todas as áreas de atividade por conta própria, ele oferece aos recém chegados a possibilidade de usar a terra por 20 anos sem pagar aluguel.
A ideia funciona assim, casas podem ser alugadas a baixo custo. A condição básica é, naturalmente, o cultivo orgânico. Dessa forma, ele já implementou nove micro-projetos, como os chama. Estes envolvem a apicultura, a fruticultura em oito hectares, avicultura, plantação de ervas, fabricação de bolo, pré-processados e produtos congelados, e trabalhos com tecidos ecológicos. Duas famílias e quatro pessoas já se instalaram na área, por causa desses projetos. Com apenas alguns trabalhos, o projeto já mostra o muito que pode ser feito.
Bem como o forno à lenha, Alfredo Sendim, que emprega 11 pessoas, opera um abatedouro super-moderno e instalações para fabricação de geleia, sucos, e embalagens de cogumelos, legumes, e outros produtos secos. Tudo isso, além de três hectares de cultivo agrícola e vegetal. Três hectares de vinhas foram plantados para aumentar a diversificação. Ele também mantém 600 perus, 80 porcos, 200 ovelhas e 20 cabras. Os animais vivem o ano todo ao ar livre.
A loja própria de Alfredo conta uma gama de produtos que chega a quase 300 artigos, incluindo frutas e legumes frescos. “Apesar da crise econômica atual, o volume de negócios na loja está aumentando lentamente, mas de forma contínua”, é a boa notícia relatada por Joaquin Caixero, o açougueiro na loja.
Outro projeto, ainda está em fase de planejamento. A criação de uma zona para o eco-turismo. Agroturismo pode ser uma maneira ideal de complementar renda, considerando que há muito a descobrir sobre a fazenda, localizada em uma bela paisagem e, acima de tudo, há muito para os visitantes a aprenderem sobre a proteção da natureza. A ideia é que não só o sistema agro-florestal, com o estudo dos carvalhos de 200 a 300 anos seja o objetivo do projeto, mas que as pessoas também possam se envolver em outras atividades relevantes para a conservação da natureza, como a observação de aves ou de gatos selvagens.
É por isso que Alfredo trabalha em estreita colaboração com as associações de conservação da natureza, que ele convida uma vez por ano, juntamente com seus clientes, para um dia aberto na fazenda. Milhares de pessoas regularmente vêm para este evento. No final de abril de 2012, foram cerca de três mil visitantes, além de 20 agricultores orgânicos.
Conheça mais sobre a propriedade: www.herdadedofreixodomeio.com
Fonte: Organic-Market.Info
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