Prefeitura de SP ameaça feira de orgânicos no Ibirapuera

A decisão da Prefeitura de São Paulo, através da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação, para retirar a Feira de Produtos Orgânicos, que desde 2012 é realizada aos sábados pela manhã numa área do Modelódromo do Ibirapuera, na zona Sul da cidade, não só surpreendeu, mas provocou indignação e o questionamento de profissionais de nutrição, produtores, entidades dedicadas à alimentação saudável e dos próprios consumidores. Segundo ofício encaminhado pela Secretaria aos seus organizadores, a feira “causa prejuízo às atividades esportivas do equipamento” e, por esse motivo, a partir do próximo dia 16 de agosto não poderá mais funcionar no local.
“A Feira de Produtos Orgânicos é uma feira municipal instituída pela Portaria nº 044/SMSP/ABAST/2012 e atende a todas as regulamentações. Ela é promovida pela Supervisão de Abastecimento da Secretaria do Trabalho Municipal, com apoio das entidades AAO (Associação de Agricultura Orgânica), ABD (Associação de Agricultura Biodinâmica), ANC (Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região), Instituto Kairós, Movimento Slow Food e Cooperapas, e os feirantes atendem a edital de chamada pública e pagam taxa pública para participar”, diz Ana Flávia Borges Badue, do Instituto Kairós, uma das entidades apoiadoras da Feira.
Márcio Stanziani, gerente executivo da AAO, uma das entidades fundadoras da feira, cobra a formulação de uma política pública, a continuidade de uma política de apoio à agricultura orgânica do município prometida pelo prefeito Fernando Haddad quando candidato e reafirmada quando assumiu a Prefeitura. “Acreditamos que ele tem que dar apoio concreto e não desestruturar uma feira virtuosa, já consolidada. Entendemos que ela deve permanecer no Modelódromo, pois tem toda a compatibilidade com o espaço que é um espaço de esporte. A agricultura orgânica e esporte têm tudo a ver. As opções de locais que a Prefeitura pretende nos dar não estão tecnicamente adequadas. O fato de tirá-la desse local, acreditamos, será uma grande oportunidade de ela morrer.”, diz.
SOMAR E NÃO DIVIDIR
Stanziani destacou que, enquanto no Rio de Janeiro existem, hoje, 18 feiras orgânicas, São Paulo possui apenas oito. “Estamos abertos a ver outros locais, porém, para criar outras feiras. Deveríamos ter mais feiras de orgânicos na cidade de São Paulo. Pedimos que o prefeito leve adiante o compromisso assumido com os agricultores paulistanos e com a agricultura orgânica. É importante que possamos avançar nisso, criar novas feiras e não acabar com as existentes”, enfatizou.
Ana Flávia Badue, do Instituto Kairós , pergunta: “Será que permitir o acesso da população à alimentação saudável através de produtos orgânicos atrapalharia as atividades de um centro esportivo em um único período do sábado? Será que esta ação não poderia se somar às ações da Secretaria de Esportes?”. Ela lembra que há um ano e meio a Feira reúne semanalmente nas suas 32 barracas produtos de cerca de 400 famílias de produtores orgânicos de Parelheiros na Zona Sul e na Zona Norte do município de São Paulo; de diversas regiões do Estado de São Paulo como Ibiúna, Botucatu, Vale do Paraíba, Morungaba, Cotia, Iaras, Limeira, Cordeirópolis, Campinas, Joanópolis, Piracaia entre outros; e produtos orgânicos vindo de Norte a Sul do País.
Ela lembra que nos tempos de maior movimento, no início deste ano, a feira chegou a receber cerca de 1700 consumidores aos sábados, dia de sua realização, e que a iniciativa tem tudo para atuar de forma integrada com as atividades da própria Secretaria. “É o caso do programa Saúde nos Esportes, cujo link pode ser acessado através do site do próprio órgão municipal, e que tem como um dos temas a nutrição”.

PROGRAMAÇÃO DE AÇÕES
Segundo Ana Flávia, foi encaminhado à Secretaria de Esportes uma programação que as entidades apoiadoras da Feira estão desenvolvendo, como o Chef na Feira e as Rodas de Conversa, nas quais chefs e nutricionistas renomados abordam o tema Nutrição Esportiva e Alimentação Orgânica, propondo uma parceria com o programa Saúde nos Esportes, mas até agora não houve posicionamento da Secretaria. E no dia 16 de agosto está sendo programado, em parceria do Instituto Kairós, a ONG Bike Anjo e os feirantes, uma ação com ciclistas da cidade. Será feito um percurso para conhecerem uma horta orgânica comunitária na Praça do Ciclista, a Escola Estufa da Vila Mariana e ao final a Feira Orgânica no Modelódromo.
Segundo as entidades apoiadoras da Feira, a posição da Secretaria de Esportes não está em consonância também com a “Campanha Brasil Orgânico e Sustentável”, do Ministério do Desenvolvimento Social, iniciativa que distribui kits com 10 itens de produtos orgânicos e da agricultura familiar para os integrantes do Programa Brasil Voluntário, criada para incentivar a comercialização e o consumo de produtos orgânicos e da agricultura familiar antes, durante e após a Copa do Mundo de 2014.
Da mesma forma não esta consonante também com a proposta do Novo Plano Diretor (aprovado no dia 30 de junho) e a promessa do Prefeito Haddad aos produtores orgânicos do município de São Paulo que estiveram com ele em março deste ano de “estimular a agricultura familiar, urbana e periurbana, incentivando a agricultura orgânica e a diminuição do uso de agrotóxicos”. Pois sabe-se que uma das formas mais efetivas de se estimular a conversão para a produção orgânica é propiciar canais de escoamento desta produção e as feiras são fundamentais neste processo, ainda mais uma feira que já esta consolidada como a Feira no Modelódromo.
MELHOR QUALIDADE DE VIDA
“A Feira de Orgânicos propõe melhor qualidade de vida para todos”, afirma. Rachel Soraggi, feirante e representante da ABD, entidade que apoia a Feira. “Com, ela o poder público municipal fomenta a agricultura familiar orgânica, a economia solidária, o cooperativismo no nosso município e em diversas regiões e contato direto entre produtores e consumidor final.” Segundo Raquel, com a Feira o consumidor tem a oportunidade de uma vida mais saudável pelo consumo de produtos orgânicos, que são mais nutritivos, e incentiva os produtores, principalmente os jovens agricultores, a permanecerem na área rural, protegendo assim o meio ambiente e os recursos hídricos, entre eles a áreas de mananciais do município, que abastecem 30% da água servida à população.
Para os feirantes, além de acesso a alimentos saudáveis com total sinergia com as práticas esportivas, a Feira oferece espaço de lazer, recreação, cultura e educação, a exemplo das barracas de café orgânico e a de garapa, suco verde e tapioca com mesas para as pessoas se reunirem. As Rodas de Conversas promovidas no local são mais uma oportunidade que a Feira oferece para lazer e troca de conhecimento, além do programa Chef na Feira, que mensalmente convida um chef renomado para oferecer dicas de gastronomia, degustações e orientar a prática de Segurança Alimentar e Nutricional, sendo estas atividades gratuitas.
Numa parceria com a ONG Arte em Pneus, a Feira proporcionou também a montagem desde 2013 do Parquinho de Pneus, que tem sido uma atração para as crianças filhas dos frequentadores e dos usuários das diversas modalidades esportivas do espaço, além de atender durante a semana as crianças da escola municipal localizada ao lado do Modelódromo. Portanto, a Feira além de alimentos saudáveis para os esportistas e a comunidade, oferece lazer e recreação que é também objeto de atuação da Secretaria de Esportes, Lazer e Recreação.
“Tirar a Feira do local irá desorganizar o que já está organizado, e com ótimos resultados para consumidores, produtores e para a comunidade local”, diz Paulo Coutinho, produtor e feirante, lembrando que há uma petição na internet pela permanência da Feira no Modelódromo.
A petição, com o hashtag #afeirafica, vem mobilizando um grande número de usuários e pode ser acessada pelo link: tinyurl.com/kda3ebb
Por Equipe SNA/SP