Produção de Algodão no Ceará aumenta a partir de Cultivo Orgânico
O cultivo do algodão na década de 1950 ocupava 1,2 milhões de hectares no Estado do Ceará, porém este cenário até pouco tempo não permanecia o mesmo em virtude de pragas na plantação e o desinteresse econômico neste tipo de produção. Atualmente a realidade nesta região está mudando. Uma articulação entre o governo federal, ONGs e empresas privadas está permitindo a retomada da produção do algodão com base na agricultura orgânica, no plantio consorciado com alimentos e na venda da pluma seguindo os princípios do comércio justo.
Hoje, cerca de 1.000 famílias vivem do algodão cultivado com técnicas agroecológicas em cinco Estados do Nordeste – Ceará, Pernambuco, Paraíba, Piauí e Rio Grande do Norte. Ao todo, são 1.300 hectares plantados sem agrotóxicos em sistema de rotação de culturas, com técnicas de conservação do solo e da água, controle biológico de pragas, adubação verde e curvas de nível para evitar erosão. A adoção de técnicas mais sustentáveis de plantio está ligada à reforma agrária e ao fortalecimento da agricultura familiar na região.
Destinado a agricultores de assentamentos do governo federal, o projeto Dom Helder Câmara, uma iniciativa de combate à pobreza no semiárido vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e financiada com recursos do Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura (Fida), da Organização das Nações Unidas (ONU), presta assistência técnica às famílias e vem permitindo a expansão do cultivo de algodão em conjunto com culturas como milho, feijão, hortaliças e gergelim. “O algodão agroecológico é uma excelente cultura para o semiárido, pois é resistente à seca e, cultivado em consórcio com outros alimentos, permite um controle adequado de pragas”, explica Fábio dos Santos Santiago, coordenador técnico do Projeto Dom Helder Câmara.
Os agricultores da região de Choró (CE) hoje vendem quase toda a produção para uma marca franco-brasileira de calçados, que produz no Brasil tênis com apelo sustentável. Sócios fundadores da empresa criada em 2004 na capital francesa Paris, viajam anualmente para o sertão do Ceará para negociar a compra da matéria-prima diretamente com os agricultores.
Graças a essa relação sem intermediários, os empresários conseguem pagar um valor acima da média de mercado para o algodão orgânico produzido na região. Só em 2013, a empresa comprou 500 quilos de pluma de algodão a um preço de R$ 7,39 o quilo – um preço 65% superior ao praticado no mercado. Atualmente, cerca de 700 famílias estão envolvidas no cultivo do algodão comprado pela empresa e para cada par de tênis produzido, cerca de R$ 1,1 é pago aos produtores de algodão.
O princípio que norteia as relações é o do comércio justo, onde os produtores e os compradores negociam diretamente os preços, eliminando intermediários e garantindo espaço para a produção do algodão orgânico.
Fonte: Valor Econômico