Produção orgânica de café na Chapada Diamantina
A Chapada cobre uma extensa área, abrangendo diversos municípios como Mucuge, Piatã, Bonito e Seabra, além do famoso Parque Nacional. Encravada no Meio Leste da Bahia, o que destaca, além de seu solo por vezes típico arenito, por outras lembrando o cerrado, é a altitude média de 1.200 a 1.300 m. Apesar da relativa proximidade com o Oceano Atlântico, cadeias de montanhas formam diversos microclimas, gerando vegetações de transição com a Caatinga, lembrada pela grande presença de mandacarus, Cerrado e Mata Atlântica.
“Um pedaço do paraíso”. Assim o agricultor familiar Florisvaldo Alcântara Jardim, 64 anos, define Abaíra, distrito de Catolés, Chapada Diamantina (BA), onde vive e trabalha no campo com a família. Ele e a esposa Selmi, 56, optaram por uma produção diversificada e orgânica. Os 50 hectares de terra abrigam banana, feijão, hortaliças, um tanque de peixes, gado de leite e café. Este último é motivo de orgulho para ele, pois a alta qualidade e o modo de produção do grão o classificam como café gourmet.
O que propicia a sofisticação do produto é a localização geográfica, favorável para a melhoria do café em vários aspectos como o solo, o clima, a altitude e água em abundância. “Aqui chove bastante, a gente só irriga umas duas vezes por ano por gravidade”, explica referindo-se à irrigação mecânica feita quando a fonte de água fica em um nível superior ao da área de irrigação, dispensando o uso de diversos equipamentos, inclusive as bombas.
A produção de Florisvaldo e de mais 12 famílias da localidade é comercializada pela Cooperativa de Produtores Orgânicos de Biodinâmicos (CooperBIO). O café da região é exportado para estados brasileiros e países como Estados Unidos e Japão. A cada safra ele colhe, em média, 80 sacas de café, que rendem R$ 56 mil.
Florisvaldo e a família disfrutam de uma vida com mais qualidade, digna e feliz. “Vivi em São Paulo e em Salvador por mais de 10 anos com meus pais. Vendi sorvete e fui taxista. Quando comparo como vivo hoje com meu passado, acho que estou num pedaço do paraíso”, declara. Também pudera, o sítio Água Limpa fica perto do Pico do Barbado, a maior montanha da região Nordeste.
O casal de agricultores, que já acessou o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para investimento, aguarda a liberação de mais duas modalidades de crédito uma para custeio e outra para compra de um carro utilitário, pelo Mais Alimentos. “A nossa renda melhorou e estamos reformando a casa”, comemora.
Luca Allegro e Nelson Ribeiro também produzem café. Com o objetivo de produzirem segundo normas da Cafeicultura Orgânica, passaram também a adotar o sistema Biodinâmico, que leva o selo Demeter. Muita dedicação, esforço, dificuldades e barreiras, porém, hoje já se dão ao luxo de praticamente programarem sua pequena produção para os clientes já estabelecidos.
Segundo Luca, proprietário da Fazenda Aranquan, junto ao Nelson, da Fazenda Floresta, “fundaram” uma “cooperativa de 2 produtores”, pois trabalham efetivamente de forma cooperada. Dividem tarefas, ficando as operacionais sob a batuta do Nelson, enquanto que as burocráticas e comerciais, com o Luca, este usando sua experiência como trader de fibra de sisal.
Propriedades vizinhas, num belíssimo platô em Ibicoara, estão sentindo o processo de seleção intensivo que o mercado está impondo, dentro de um quadro de forte competição global. A saída: aprimoramento dos processos, incluindo colheita seletiva com até 4 passadas, resultando num excepcional aproveitamento dos grãos independente das diferentes floradas que acontecem normalmente na região.
Num raciocínio bastante claro, tanto Nelson quanto Luca colocam que, por mais cara que fique a colheita seletiva em tantas etapas, ainda o resultado é muito satisfatório porque grãos defeituosos são minoria. Isso é ainda mais importante porque estão distantes demais de locais que prestam serviços com sistemas de padronização por mesa densimétrica e eletrônica por cor, o que ficaria inviável. Os lotes são realmente muito bons, dando-lhes credenciais para projetos como este com a Riverford, da Inglaterra.
Para finalizar, veja uma reportagem bacana sobre os dois feita pela britânica The Guardian:
http://www.guardian.co.uk/lifeandstyle/2009/dec/06/biodynamic-coffee-in-brazil
Fonte:
– Portal do Ministério do Desenvolvimento Agrário
– The Coffee Traveler by Ensei Neto