Produzindo alimentos orgânicos
Fonte: Folha.com São Paulo
De sua plantação de girassóis no alto de uma pequena colina, Luis Barrichello, 60, dono de um sítio de orgânicos em Mogi Mirim (a 151 km de São Paulo), aponta a propriedade ao lado, onde são cultivados milhos transgênicos. “Olha lá, você não vê nenhum passarinho”, diz. Não se trata de mera rivalidade entre vizinhos. Segundo o produtor, a presença de pássaros e insetos sobrevoando plantações costuma ser muito maior nos locais de cultivo orgânico do que nos que utilizam agrotóxicos.
Mas não é simples como parece. A opção de não utilizar pesticidas pode se converter num quebra-cabeça rural. Por exemplo: Luis só poderia plantar milho em seu terreno se a plantação vizinha estivesse a mais de cem metros. “Não ia dar outra, o milho transgênico aqui do lado se misturaria ao meu”, diz, enquanto arranca o mato que cresceu em sua plantação.
Em sítios onde se produzem orgânicos, é assim que funciona: quase todas as atividades são feitas manualmente. Enquanto o vizinho de Barrichello usa produtos químicos para afugentar as pragas, ele conta com cerca de dez funcionários para cuidar de cada pé de seu plantio. O serviço inclui carpir em torno de cada planta, adubar o solo e espantar eventuais pragas –um dos métodos usa um preparado de pinga com pimenta. Barrichello já plantava pelo método convencional desde 1964, mas começou com os orgânicos em 2001. “Dá dez vezes mais trabalho.”
Em parte, são os esforços para preservar a plantação de pestes e de intempéries climáticas as justificativas dos produtores para os preços dos orgânicos –nos supermercados, eles podem custar até três vezes mais.
É esse o principal motivo para que 42% dos brasileiros –a maioria das classes C e D– ainda não incluam produtos orgânicos na cesta de compras, segundo uma pesquisa da GfK Custom Research Brasil, feita em 2010.
Mesmo assim, Barrichello afirma que vende “absolutamente tudo” o que planta. “Nunca sobra nada. Se pudéssemos produzir mais, é certo que continuaríamos vendendo tudo.”
ESTÁ NA MODA
Embora não haja estudo sobre o crescimento da demanda por orgânicos, é evidente que quem investe nos produtos sem agrotóxicos está encontrando mais espaço nas prateleiras.
O Pão de Açúcar, um dos maiores vendedores de orgânicos do Estado, dá sinais do fenômeno. Embora esses produtos ainda representem 3% dos itens agrícolas disponíveis, as vendas no segmento crescem até 40% ao ano. Somados os dois últimos anos, o faturamento atingiu R$ 130 milhões.
Para atender à demanda, especialmente na cidade de São Paulo, a meta é crescer 30% em 2011 em relação ao ano passado, diz a gerente de orgânicos da rede, Sandra Caires Sabóia.
Segundo Vanice Schmidt, gerente da Ecocert –selo francês presente em 80 países e um dos mais atuantes no Brasil–, a procura por certificações tem crescido anualmente, com forte demanda em São Paulo. “Começamos em 2001 com três projetos. Hoje, temos 200”, diz.
A conta complica quando os números que crescem são os de agrotóxicos presentes nos produtos não orgânicos. Em tese, eles não fazem mal para o organismo humano se aplicados em doses estabelecidas em lei.
Mas, em pesquisa feita em 2009, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) detectou um índice excessivo em 15% dos 1.773 itens recolhidos em supermercados do país. Foram constatadas irregularidades especialmente no pimentão: mais de 64% da amostra tinha problemas. O Brasil é hoje o maior consumidor mundial de agrotóxicos.
Para substituir os agrotóxicos, muitos produtores de orgânicos utilizam praguicidas biológicos.
Sem pesticidas, alguém precisa dar conta das pragas.
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