Sustentabilidade e respeito regem a produção pecuária pantaneira
No Pantanal, a bovinocultura de corte é a principal fonte econômica e mantém famílias fixadas na terra há mais de 200 anos. “Sem dúvida, o Pantanal é o ecossistema mais conservado do Brasil”, afirma José Aníbal Comastri Filho, chefe geral da Embrapa de Corumbá. Segundo ele, a grande maioria dos pecuaristas tradicionais do Pantanal utiliza a vegetação nativa para alimentar o rebanho, fazendo o manejo adequado e adaptado ao ciclo de cheia e seca, garantindo a sustentabilidade do bioma.
Cinco ONGs locais em parceria com a Embrapa Pantanal, sediada em Corumbá, MS, fizeram um levantamento com relação a preservação da região. A conclusão foi de que 86% do bioma da planície pantaneira está intacto. Isso se deve a um trabalho coletivo de uso sustentável do bioma.
Mesmo os ambientalistas ferrenhos concordam que a intervenção do homem na natureza pode ser positiva. A introdução do gado no paraíso pantaneiro há séculos trouxe benefícios. Sua criação extensiva preencheu milhares de quilômetros quadrados com atividades econômicas que não prejudicaram o equilíbrio ecológico. O terreno arenoso, inútil para a agricultura, serve ao florescimento de pasto, bom alimento para bois e demais herbívoros.
“O boi é o bombeiro do Pantanal.” A frase foi usada por Leonardo de Barros para ilustrar a ação da boiada sobre o bioma. Leonardo entabula negócios na cidade e preside a Associação Brasileira de Pecuária Orgânica. “A vegetação é de savana, ou seja, capim alto, que é podado pelo gado para a sua alimentação. O capim alto e seco no Pantanal vira combustível” Advogado de formação, ele afirma que o uso adequado da terra no Pantanal não se prende somente à consciência ecológica, mas à necessidade, à experiência prática. Segundo ele, “se destruir árvores e capim, como o pantaneiro garante o seu sustento? Ele jamais vai plantar em terreno arenoso, que não presta para a agricultura.”
Leonardo anuncia uma parceria inédita no Brasil. A ABPO e a ONG WWF-Brasil criaram um protocolo interno de processos produtivos e responsabilidade socioambiental para a produção de carne orgânica. A WWF-Brasil foi uma das ONGs responsáveis pelo estudo que constatou a integridade da vegetação nativa do Pantanal. A ABPO é formada por 16 fazendas certificadas para a produção de carne orgânica que seguem critérios rígidos como proibição do uso de uréia na alimentação do gado e de hormônios para engorda, além de tratamento à base de fitoterápicos e homeopáticos em caso de doença. O foco está no respeito ao meio ambiente – queimadas, nem pensar.
A experiência com o orgânico começou em 2004 e havia 15 mil cabeças registradas no programa da ABPO. Este ano deverá fechar com 53 mil com 500 abatimentos ao mês. Processada no Friboi, unidade de Campo Grande, a carne é embalada e distribuída lá, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e em Salvador. O acordo comercial com o Friboi deu o arranque no negócio ao criar uma marca. Do outro lado da fronteira, em Mato Grosso, mais de 20 fazendeiros também produzem carne orgânica.
A sustentabilidade está agregando valor ao produto. O pecuarista orgânico recebe um prêmio de entre 5% e 18% pela arroba entregue ao Friboi. A carne orgânica pantaneira traz na embalagem a marca Organic Beef. A parceria pecuaristas-WWF-Brasil aplaca um antagonismo histórico e prejudicial entre ambientalistas e o campo no país. Só esse motivo poderia ser comemorado, afinal, um tem muito a aprender com o outro, principalmente no momento globalmente delicado com relação as questões ambientais.
Presidida pelo fazendeiro Francisco Maia, a Acrissul – Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul defende a existência de um selo de origem para a pecuária sustentável do Pantanal. Segundo ele, o produtor pantaneiro está descapitalizado e é preciso que o governo volte os seus olhos para a região. “Tanto se fala do desmatamento da Amazônia e nenhuma linha é voltada para o nosso bioma virgem. Quem preserva é que merece apoio.” Francisco Maia lembra que é extremamente difícil ser pantaneiro. “O Pantanal é enorme e não tem estradas e escolas. Nas cheias, os ataques de mosquitos são insuportáveis e a nossa responsabilidade com os funcionários é de 24 horas por dia.” Ele teme que o aperto financeiro force a saída dos fazendeiros da região e a compra da terra por investidores sem compromisso com a sustentabilidade. Para o dirigente. “sonhar é muito bom, mas o pantaneiro precisa também de dinheiro para sobreviver”.
A mobilização local em prol da sustentabilidade se desdobra de inúmeras maneiras. A Acrissul promoveu em Campo Grande uma feira especifica do bioma Pantanal. Sua programação contou com 70 palestras, 30 leilões, danças típicas, estandes de empresas, lançamentos de livros alusivos à região e muita carne orgânica. A casa da ABPO está sendo iluminada por energia solar. “É o Pantanal saindo na frente. Preserva e mostra os resultados positivos”, diz Francisco Maia.
Fonte da notícia e artigo completo em: Globo Rural
Para saber mais:
RS – Começa em setembro curso de Pecuária Orgânica – OrganicsNet
COP 21: Como tornar a agricultura mais sustentável – OrganicsNet