Rede comunitária para acesso ao mercado pelos produtores orgânicos

Alimentos orgânicos e convencionais frente a frente

5 de setembro de 2012

Foto: Guilherme Leporace

A opção por uma dieta mais saudável passa, muitas vezes, pela troca de alimentos convencionais por orgânicos. Entre 1995 e 2005, o mercado de alimentos livres de pesticidas e outros aditivos químicos viu suas vendas crescerem até 45% nos países ricos — o Brasil alcançou índices semelhantes nos últimos quatro anos. O vínculo entre saúde e estes produtos, tema de milhares de pesquisas, é contestado pela Universidade de Stanford. Seus pesquisadores debruçaram-se em 237 levantamentos, que consideraram os mais relevantes para análise. Concluíram que a comida orgânica não traz benefícios diferentes daqueles vistos na convencional.

Entre os estudos, havia de testes clínicos a outros dedicados a níveis de contaminação de frutas e vegetais cultivados orgânica e convencionalmente. O resultado obtido com essas duas formas de agricultura tinha o mesmo conteúdo vitamínico e de nutrientes — apenas um deles, o fósforo, contava com presença significativamente maior entre os orgânicos. Essa vantagem, porém, foi considerada irrelevante, porque poucas pessoas têm deficiência desse elemento.

Nos testes com leite, novo empate entre orgânicos e convencionais em relação ao conteúdo de proteínas. A equipe de Stanford, porém, não descarta que o orgânico tenha níveis muito maiores de ômega-3, uma gordura que o corpo não produz, embora seja essencial para ele.

— Ficamos surpresos ao descobrir que os orgânicos não são sempre mais saudáveis e nutritivos — admite Crystal Smith-Spangler, pesquisadora da Divisão de Clínica Médica de Stanford, que publicou seus resultados na revista “Annals of Internal Medicine”.

Crystal adianta que o levantamento não é contra a alimentação orgânica. Esta opção, para ela, ainda é a melhor, mas não por ser a mais saudável. Outros motivos podem justificar a compra destes alimentos — o principal deles é a preocupação com o meio ambiente.

Brasileiros contestam resultado

A popularidade dos produtos orgânicos pode ser medida em cifras. Entre 1997 e 2011, o mercado americano de alimentos livres de aditivos químicos viu suas vendas subirem de US$ 3,6 bilhões para US$ 24,4 bilhões anuais. No Brasil, em 2010, os orgânicos movimentaram US$ 680 milhões.

— Esses produtos correspondem a menos de 2% de todo o mercado de alimentos do país, o que permite amplo espaço para crescimento — explica Lutero Couto, vice-presidente da Associação Brasileira de Orgânicos. — Existem vários estudos que tentam desqualificar nossos produtos, financiados por fabricantes de agrotóxicos, medicamentos, produtos veterinários. Não podemos esquecer da instabilidade das interações bioquímicas promovidas pelos resíduos de materiais geneticamente modificados, presentes nos transgênicos, em nosso organismo.

Pesquisador de Agroecologia da Embrapa Meio Ambiente, João Carlos Canuto também tem ressalvas ao estudo de Stanford.

— Este é um único levantamento. Há vários indicando resultados diferentes — lembra. — Considerando que este estudo fosse definitivo, ou seja, que os orgânicos não representem ganhos ao organismo, ainda assim é importante ressaltar os problemas à saúde causados pelos alimentos produzidos com agrotóxicos, o que por si só justificaria uma escolha pelos orgânicos.

A equipe de Crystal não encontrou estudos que comparassem, a longo prazo, o que acontece com quem se alimenta exclusivamente com alimentação orgânica e aqueles que optam apenas pela dieta convencional.

Fonte: O Globo

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