Rede comunitária para acesso ao mercado pelos produtores orgânicos

SNA participa de mesa-redonda sobre Economia Verde

28 de junho de 2012

Em debate realizado durante o Green Rio, evento paralelo à Rio+20, pesquisadores, empresários, e coordenadores de projetos ligados à área de orgânicos, discutiram questões relacionadas à Economia Verde. A mesa-redonda intitulada: “Orgânicos, Indicação Geográfica e Comércio Justo: Valores Agregados da Economia Verde, reuniu os seguintes debatedores: Sylvia Wachsner (Coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos); Fátima Rocha (Presidente da MegaMatte/ABF); Ming Liu (Coordenador do Projeto Organics Brasil).

O moderador do debate, Alexandre Harkaly (Diretor da IBD Certificações), abriu os trabalhos falando sobre a declaração dos direitos universais dos seres humanos, a qual assegura que todos têm direito a um mínimo, e esse mínimo precisa ser declarado e seu acesso assegurado pela sociedade e pelo planeta. Daí surge a pergunta: “qual é o máximo socialmente viável, justo, ambientalmente correto e economicamente sustentável? De quantos planetas vamos precisar? Esse consumo máximo, esse máximo de depredações do planeta terra precisa ser monitorado, trabalhado e adaptado à uma nova realidade da Economia Verde”. Alexandre afirmou também que enquanto estivermos situados dentro do capitalismo, vamos ter sérios problemas políticos, éticos e morais. Por fim, ele provocou os palestrantes à definir o conceito de Economia Verde e estabelecer metas “para colocar o planeta nos trilhos”.

Sylvia Wachsner, primeira palestrante a abordar a questão, considera que a expressão Economia Verde está em construção; do seu ponto de vista, esta (Economia Verde) se apresenta como sinônimo de Economia Limpa e Sustentável. Para ela, a cadeia de valor alimentar, que se estende do produtor ao varejista, deve garantir que todos ganhem; a chamada economia do Win-Win. A Coordenadora do projeto CI Orgânicos pontua que novas cadeias devem ser produzidas e além disso, parcerias com o setor, público e privado, estabelecidas. “Os produtores orgânicos e a produção orgânica são para os consumidores e para o mundo a porta de acesso aos alimentos e a nutrição”, disse. Ainda segundo Sylvia, os agricultores familiares são a peça chave para a construção de um planeta sustentável, tendo em vista que a agricultura orgânica constitui boas práticas agrícolas. Ela criticou também a falta de consciência da maioria das pessoas com relação ao consumo de água: “água e alimentos vêem do campo, da parte rural, falta às pessoas consciência de que fazemos parte do mesmo ambiente, e a água é uma questão preocupante, mesmo no Brasil com tantos rios; os alimentos orgânicos e a agricultura orgânica precisam de água para existir”.


Sylvia Wachsner fala sobre o CI Orgânicos

A respeito de certificação, Sylvia Wachsner apontou, para a promoção da Sustentabilidade Social, a DAP (Declaração de Aptidão ao Pronaf), instrumento jurídico que permite emitir uma nota fiscal, o que significa que o agricultor está legalizado, como uma ferramenta da economia municipal, a qual inclui os pequenos produtores na sociedade, fortalece as cooperativas e constrói relacionamentos eticamente justos e sustentáveis. “A Certificação e o Comércio Justo dão base e conhecimento de produtividade aos agricultores”, frisou Sylvia que ainda assinalou a importância certificação para a transparência e rastreabilidade dos produtos orgânicos. A coordenadora do projeto CI Orgânicos finalizou sua apresentação debatendo a questão das cooperativas, as quais ela enxerga como meio de agregar valor a cadeia produtiva, considerando o fato de o produtor estar mais próximo do gestor.

Franquias perenes

Fátima Rocha, diretora executiva do MegaMatte e presidente da Associação Brasileira de Franchising do Rio de Janeiro (ABF- Rio), que reúne 150 associados, defendeu a ‘sustentabilidade’ e o menor risco do sistema de franquia: “Apenas 5% das empresas fecham após cinco anos”, afirmou. Fátima contou que quando ouviu pela primeira vez a expressão comércio justo, descobriu que já adotava essa prática na sua empresa, a Mega Matte. “Praticamos uma relação de troca baseada no diálogo, transparência e respeito, que busca maior igualdade”, disse. Entre os quatro tipos de certificação existentes ela considera a do comércio justo a mais penosa. E justifica: “É preciso preencher 40 páginas, em inglês”.

Entre as contribuições da MegaMatte para a economia verde, destacou o uso de mate 100% natural e certificado pela Ecocert. Além disso, suas lojas não oferecem refrigerantes e incluem no cardápio opções saudáveis como pão de queijo de soja, trouxinhas de brócolis, entre outras. Contudo, Fátima faz uma ressalva: “adoraria vender  100% do mix orgânico, porém a informação não chega às pessoas para que elas possam ter essa preocupação consumir de maneira responsável, e mais do que isso, falta incentivo aos produtores, o fornecimento de produtos orgânicos é precário ”.  Entre os projetos sociais, apoio a crianças e adolescentes e gerenciamento de resíduos baseado na gestão “econológica”, que visa o respeito ao meio ambiente e ao ser humano.

Indicação Geográfica: um novo conceito

Gilberto Mascarenhas , do MAPA, resumiu o conceito relativamente novo de Indicação Geográfica (IG) como “valorização do território para a soberania alimentar”. Segundo ele, o conceito revaloriza bens e serviços produzidos em determinada região, quando ativos intangíveis como cultura, tradição, conhecimentos tradicionais e recursos locais estão associados à oferta de produtos diferenciados e com qualidade artesanal. Assim, as marcas coletivas, a certificação e a indicação geográfica assumem papéis importantes para atender a essa nova demanda. Mascarenhas explica que a Indicação Geográfica leva em conta o solo, o clima e a forma de produzir locais, e se subdivide entre Indicação de Procedência, baseada na boa reputação do produto, como a Cachaça de Paraty (RJ),por exemplo,  e Denominação de Origem, que considera fatores naturais e humanos, como o café da Serra do Caparaó (MG). Ele lembrou que esse sistema de certificação é um reencontro de produtos típicos e ancestrais, que na Europa reúne mais de 4.000 IGs. No Brasil, por enquanto envolve apenas 24 regiões e 40 instituições apoiadoras de produtores de café, carne, queijos, arroz, entre outros. Ele alerta, entretanto, que a IG é necessária, mas não suficiente.

Mercado Mundial

Na opinião de Ming Liu, coordenador da Organics Brasil, uma parceria com a Apex para inserir produtos brasileiros no exterior, conhecer os números é fundamental para a consolidação do mercado de orgânicos. Ele destacou o tamanho do mercado mundial de orgânicos: US$ 60 bilhões, e seu o crescimento acelerado, na última década, em especial nos Estados Unidos, onde o setor movimentava US$ 1 bilhão em 2002 e este ano chegará a US$ 31 bilhões. O caminho, para ele, são políticas públicas aliadas às iniciativas privadas. Fundada em 2005, a Organics Brasil apóia e divulga a presença brasileira no mercado internacional de orgânicos nas principais feiras do mundo. Reúne mais de 50 produtores, processadores e empresas associadas, que divulgam seus produtos num sofisticado catálogo, no site ou nos estandes montados em eventos internacionais. ” Me sinto um soldado dentro dessa batalha”, finalizou.

Fonte: Sociedade Nacional de Agricultura

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